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Festival do Rio (V) Os desenhos de Bia Wouk no filme que o México mandou

RIO (Especial para O ESTADO DO PARANÁ) - Os desenhos que faz Armando (Rafael Sanchez Navarro), o jovem e conflituado personagem de "El Outro", durante a ação dramática desse filme que representou o México no I Festival Internacional do Cinema, tem íntima ligação com a estória roteirizada pelo argentino Miguel Puig. São desenhos de traços marcantes e fortes, que os curitibanos reconhecerão com facilidade, se algum dia esse filme for lançado em circuito comercial. Afinal, a autora é a curitibana Bia Wouk, casada com um diplomata brasileiro, residindo há anos na Cidade do México. Infelizmente, "El Outro" foi um dos filmes mais fracos exibidos no recém-findo Fesrio, não arrancando aplauso algum nas duas sessões em que foi projetado. Entretanto, o nome de Bia Wouk, citada nos crédito. É uma prova de que essa jovem e bela artista plástica paranaense já tem seu talento reconhecido, ao ponto de ter sido requisitada pelo cineasta Arturo Rupstein para criar os desenhos que aparecem no filme, como feitos pelo personagem central. Outro paranaense que também apareceu no Fesrio - só que de corpo presente e muito elétrica em seu tipo punk - foi a iratiense Denise Stocklos. Hoje a mais importante mímica brasileira, Denise veio promover a exibição de seu vídeo "Habeas Corpus", dirigido por Antonio Abujamra e até o momento só visto na TV Cultura, em São Paulo. Denise volta a apresentar, esta semana no TBC. Em São Paulo, a peça "Um orgasmo adulto escapou do zoo", do italiano Dario Fo, texto que, com outro título ("Brincando em cima daquilo"), Marília Pera mostra no Rio, no Teatro Theresa Raquel. Já o cineasta e jornalista Frederico Fullgraf, alemão de nascimento, mas curitibano de adoção (afinal, aqui passou a infância e a adolescência) trabalhou bastante durante o festival. Autor do vídeo "Der Tadlich Kreislauf" (O ciclo da morte), oficialmente inscrito pela República Federal da Alemanha, correu muito para que o mesmo tivesse boa projeção na áreacompetitiva. E, contratado por uma agência alemã, realiza um documentário sobre o festival, a ser apresentado na RFA. O vídeo "O Ciclo da Morte" é um compacto do documentário que Frederico vem realizando desde o início do ano sobre o perigo dos agrotóxicos no Brasil. Com subvenção da Secretaria da Agricultura do Paraná e uma contrapartida de financiamento da WDR (o primeiro canal de televisão da televisão da República Federal da Alemanha), esse documentário (com o título de "O veneno nosso de cada dia") tem sequências rodadas no Interior do Pará e Norte do Paraná, entre outros locais. Na linha do cinema jornalístico e corajoso que Fred Fullgraf já demonstrou em "Adeus, Sete Quedas" e "O Expropirado", esse novo trabalho vai ser exibido na televisão alemã e mostrado em importantes competições internacionais. A BATALHA DO VÍDEO Entre múltiplo programas paralelos de cinema, exibidores em vários espaços, e os 17 filmes (representando 14 países) em competição, entre os dias 19 e 26, do corrente, as centenas de vídeos inscritos nos setores informativo e competitivo ficaram, obviamente, relegados a um segundo plano de interesse. Sentindo o esvaziamento nas sessões em que os tapes vinham sendo apresentados, seus realizadores passaram a utilizar todas as formas capazes de atrais interessados - tarefa difícil, devido ao paralelismo dos eventos. O que não deixou de ser lamentável, haja vista os trabalhos interessantes aqui apresentados em diferentes seções: [musicais], vídeo clip, educativo, didático, jornalístico, campanha comunitária etc. Nos poucos espaços nos quais a direção de Fesrio autorizou a exibição de cartazes e posters, sem cobrar taxas em dólares (que foi a moeda "oficial" nas negociações durante o festival), sucediam-se avisos e convites para os diversos vídeos em exibição. Também para as próprias entrevistas e exibições de filmes fora da competição houve necessidade dos produtores usarem de toda a imaginação para desempenhar o interesse dos jornalistas (mais de 800 oficialmente credenciados), logicamente sempre procurando os acontecimentos, em si, mais importantes. Também na I Feira-Mercado de Filmes e [Vídeo-cassete] da América Latina, paralela ao festival, o movimento não foi dos maiores, nos primeiros dias, embora a "Folha do Festival" (house organ com circulação de 15 mil exemplares, editada pela própria direção do Fesrio), otimisticamente, tenha estimado em US$ 5 milhões o montante de negócios que se realizaram entre os produtores brasileiros e estrangeiros, realizadores e exibidores, muitos se queixavam da falta de interesse real para as negociações. Por exemplo, Michael Kapotzik, da Film Polski, trazendo 13 produções inéditas (todas cópias em vídeo) e a presença do cineasta Andrzej Zulavski, de quem foi exibido, em mostra paralela, seu filme "A mulher pública", não conseguiu fechar um único contrato de vendas. Lamentando a falta de interessedas televisões brasileiras pelos filmes e, especialmente, premiados desenhos poloneses, Michael Kapotzick comparava os preços do material oferecido - com o custo dos filmes de televisão, pelos produtores americanos (mais de US$ 15 mil cada), para lamentar "a falta de opções que se dá ao espectador, em termos de conhecer produtos de países novos". OS FILMES EM COMPETIÇÃO Examinando-se os 19 filmes que competiram, oficialmente, no Fesrio, muito se indagou dos critérios da seleção. "Será que não havia filmes melhores do que os que foram escolhidos para esta competição?" A partir do momento em que o I Festival Internacional de Cinema, Televisão e Vídeo foi aceito pela Federação Internacional que coordena esse tipo de eventos, várias exigências foram feitas. Entre estas, a de que só filmes inéditos totalmente poderiam competir. Com isso, reduziriam-se ainda mais as opções para as inscrições, uma vez que, naturalmente, as produções mais importantes, especialmente dos Estados Unidos e países europeus, recém concluídas, estão reservadas para festivais já consolidados (Canes, Moscou, Veneza e Berlim). O Fesrio teve, agora, sua primeira edição e, em termos internacionais, ainda não tem tradição, o que só se adquire com a continuidade da mostra. O crítico José Carlos Avellar, agora na "Última Hora" (após muitos anos de "Jornal do Brasil") e um dos brasileiros que mais têm acompanhado os festivais internacionais, lamentava, na manhã de domingos, 25, a ausência de "Kacs", o último filme dos irmãos Taviani, foi apresentado na semana da crítica do último Festival de Veneza, mas que, como não esteve na mostra competitiva, poderia ter aqui concorrido. Entretanto, não foi incluído na mostra oficial e uma cópia, que seria apresentada hors concours, acabou não chegando, assim como de "Noi Tre", de Pupi Avanti - este devido a uma greve na Itália. Ausência sentida, também, foi a dos países africanos. Embora no cinemada Faculdade Cândido Mendes tenha sido projetadas algumas produções do cinema árabe e africano, trazidas pelo cineasta Rachid Ferchiou, diretor das Jornadas Cinematográficas de Cartago, na Tunísia, em termos de competição não houve produção alguma que representasse ocinema do continente negro. A exibição mais razoável que se dá é a dificuldade de contato com os realizadores dos filmes de longa-metragem nos países africanos. AS CHANCES PARA O PÚBLICO Das centenas de filmes que durante 10 dias foram exibidos nos múltiplos espaços do I Fesrio, poucos, infelizmente, chegarão aos circuitos comerciais do Brasil. Executando-se as curtas e médias metragens, e filmes de animação - que por sua própria natureza dificilmente conseguem chegar às nossas telas - mesmo os longa-metragens participantes da mostra competitiva e os filmes inéditos selecionados para as mostras paralelas, não terão condições de ser comercializadas. De princípio, há o custo dos direitos, nunca ingerior a US$ 15 mil dólares, ao que se acrescenta toda a despesa de copiagem (cada um fica por Cr$ 3 milhões), impostos legais, publicidade etc. Assim, só os filmes que possam ter, efetivamente, um retorno assegurado serão lançados em 1985. "Paris Texas", do alemão Wim Winders - grande prêmio em Cannes e que abriu o festival - teve custo fixado em US$ 30 mil, o que desanimou, a princípio, as conversações para sua comercialização. Já o belíssimo "Koyaanisooutsi" - escolhido pelo público como o melhor filme apresentado na Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo. Em outubro último, e que adqui, nas 3 sessões em que foi mostrado, mereceu aplausos do público em pé. Foi adquirido no domingo, 25, pela Gaumont, através da associação dessa multinacional francesa ao diretor Godfrey, que vai rodar seu próximo filme no Brasil. Aliás, Godfrey passou as últimas semanas viajando por Mato Grosso e parte do Amazonas, para escolher cenários. LEGENDA FOTO - Philip Noiret, veterano ator francês, num dos mais agradáveis filmes apresentados no Festival do Rio: "Les Ripoux".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
30/11/1984

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