As grandes marchas em ritmo sinfônico
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de agosto de 1987
John Philip Souza (Washington, D.C., 06/11/1854-Pennsylvania, 06/03/1932) passou para a história como sinônimo de compositor das grandes marchas militares americanas. Violinista e regente, e a partir de 1880, como regente da U. S. Marine Band, desenvolveria um trabalho de compositor que resultaria nos clássicos "Semper Fidelis" (1888), "The Washington Post March" (1889), "The Liberty Bell" (1893) e, especialmente, "Stars and Stripes Forever" (1897), hino na marinha americana.
Souza, filho de portugueses, costumava dizer, referindo-se as suas composições, que elas deveriam "provocar arrepios ao longo da coluna vertebral" e "despertar em um homem com perna-de-pau o desejo de colocar-se de pé e em marcha". E suas marchas conseguem, quase 100 anos depois, transmitir esta sensação.
Para perpetuar e divulgar as marchas, existe um grupo interessante - regido pelo maestro Elgar Howarth, dedicado basicamente a gravar e divulgar grandes marchas. E com o Philip Jones Ensemble a Polygram/Odeon lança o belo álbum "Grandes Marchas", gravado na Igreja de São Barnabé, Londres, em novembro de 1985, em processo digital - o que significa também sua existência em CD.
Curiosamente, não há entre as 16 faixas, nenhuma composição de John Philip Sousa, mas, em compensação, há curiosidades. Muitos compositores de segunda categoria - ensina Wally Horwood - passaram à posteridade, com toda a justiça, por terem escrito uma obra-prima que fosse, sob a forma de marcha. Joseph Franz Wagner era conhecido em sua época como o "Rei da Marcha Austríaca" e sua "Sob a Dupla Águia" tornou-se a marcha semi-oficial do Império Austro-Húngaro - e esta marcha está no lado dois deste disco, aberto com "Entrada dos Gladiadores", composição de um dos músicos da orquestra de Joseph Wagner, o fagotista Julius Fucik (esta marcha é associada a música circense, já que sempre é utilizada nos circos).
Aos 25 anos, o regente da orquestra onde Carl Teike tocava, disse-lhe que o único lugar adequado para sua nova marcha era a lixeira. Apesar disso, "Velhos Camaradas" tornou-se uma das marchas mais populares em todo o mundo. Os franceses, fanaticamente patriotas, fizeram ferver o sangue de todas as nações com a famosa marcha-de-desfile "Sambre-et-Meuss", de Trulet, e "Marcha Lorraine", de Louis Ganne, entre tantas outras.
Como ensina o musicólogo Wally Horwood, entre os maiores nomes da marcha insere-se o de Kenneth Alford - um pseudônimo que encobria o diretor musical dos Royal Marines - cujas composições magistrais, com suas frases melódicas, animadas e graciosos contratemas, elevando-o a mesma posição de John Philip Sousa. "Coronel Bogey" - que seria internacionalizada como tema da trilha sonora de "A Ponte do Rio Kway" (1957, de David Lean), aproveitada por Malcolm Arnold, que assinou aquela sound track - uma das mais populares da história do cinema. "Coronel Bogey" foi inspirada por um anúncio assobiado em um campo de golfe.
Fora do domínio militar, muitos compositores não hesitaram em expressar-se através da marcha. Os exemplos incluem Schubert, Johann Strauss, Senior e Edward Elgar, todos inspirados por sentimentos patrióticos. Mais recentemente, uma marcha de Eric Coates formou o fundo musical para o filme de guerra "The Dam Busters" (Os Malditos Batedores, 1955).
No palco, a marcha também tem sua presença: a famosa "Marcha Nupcial", de "Sonho de Uma Noite de Verão" (1842) de Mendelssohn; "A Marcha da Coroação" e "Le Prophéte" (1849), de Meyerbeer; e a "Marcha Triunfal" da "Aida" (1871), são exemplos de marchas cênicas incluídas neste "Grandes Marchas", que traz também a "Marcha Shukuten", do compositor japonês de trilhas sonoras para filmes, Ikuma Dan.
Um disco inteligente e documental importante. Além de musicalmente dos mais agradáveis.
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