Itamar e o canto livre do Araguaia
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de fevereiro de 1985
Está em Curitiba, Itamar Correia, 33 anos, uma das vigorosas revelações da música do Centro-Oeste e que está lançando um elepê ("Araguaia, Meu Brasil") considerado já uma das melhores produções independentes do período 1984/85. Veio especialmente para o musical de hoje programado pelo congresso da Juventude Socialista, hoje, às 20h30min, no ginásio do Tarumã, no qual estarão se apresentando também a dupla Zezé & Simões, Miran, grupos Andes e D'Ameryca e Rosy Greca.
xxx
Nascido no Rio, mas tendo passado toda a infância e a adolescência em Goiânia, Itamar começou a tocar violão e compor ainda adolescente. Filho de um casal de farmacêuticos que gostava de fazer música, a poesia e as músicas de Itamar sempre foram vigorosas, voltadas para a realidade brasileira. Do sonho Paz & Amor dos anos 60 para a brutal repressão que assistiu a partir de 1968, nasceu a consciência política que fez seus livros ("Vivo em Goi", 1978; "Araguaia, meu Brasil", 1980), compacto duplo (1982) e, finalmente este elepê (lançado no final do ano passado) serem testemunhos de sua época. Não é sem razão que as canções de Itamar falam de liberdade, luta e amor - e o disco de infância, Marco Antônio Dias Baptista, assassinado pela repressão em Goiás, aos 15 anos de idade.
xxx
Casado, três filhos - Yuri, Ludmila e Janaína - e vivendo há 4 anos entre Goiânia e São Paulo, Itamar tenta sobreviver de seu trabalho musical. Investiu Cr$ 25 milhões na produção do álbum "Araguaia, meu Brasil" que está levando, junto a um belo show, a todas as capitais brasileiras. Desta vez veio a Curitiba apenas em companhia de um amigo estradeiro, o flautista Horton Macedo (30 anos - que participa também de seu elepê). O crítico Ilmar de Carvalho, d'O Pasquim, foi o primeiro a sentir a importância de Itamar e a destacar sua composição "Xambioá" como uma das melhores músicas do ano (conforme referendum que O ESTADO publicou na edição de 30 de dezembro).
Cabelos compridos, profunda consciência política e da necessidade do artista atuar em seu tempo, Itamar lembra Vandré e diz que "quem sabe faz a hora/não espera acontecer". Aberto a todas as influências brasileiras - do choro nordestino de seu grande amigo Canhoto da Paraíba a geração baiana, mas particularmente admirador da chamada "turma da estrada" mineira - Itamar Correia fala do Araguaia, do cheiro do mato e dos que sonham com a liberdade:
Eh! Araguaia
Quando o braço da gente
Abraça a nascente
E o novo raiar
LEGENDA FOTO - Itamar Correia (na foto, com o violonista Canhoto da Paraíba), o cantor do Araguaia, no show dos jovens socialistas, hoje à noite.
Enviar novo comentário