Kafka - A implacável permanência
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 30 de março de 1986
A obra de Franz Kafka é tão fascinante que para entendê-la melhor é preciso também conhecer o autor e sua trágica vida. Por isso um dos mais oportunos lançamentos dos últimos meses foi "Cartas a Felice", de Kafka (280 páginas, Cz$ 68,00, Editora Anima). Estas "Cartas" são os últimos textos de Kafka ainda inéditos em língua portuguesa e mostram um pouco do relacionamento do autor de "O Processo" com uma das mais importantes mulheres de sua vida, Felice Bauer, de quem foi noivo entre 1912 e 1914, quando ela rompeu devido às dúvidas de Kafka, atormentado entre casar-se e superar a solidão ou preservar a sua independência às custas do isolamento. Kafka tinha também plena consciência de sua saúde precária e do pouco tempo que lhe restaria para viver ao lado da mulher amada. "Terei saúde suficiente para mim, mas não para casar e muito menos ter filhos", escreveu. Em 1917 tornam-se noivos e fazem um estranho acordo: morariam em Berlim, mas cada um trabalharia para si e teria sua própria fonte de rendimentos. Em agosto daquele ano agravam-se os sintomas de tuberculose do escritor. Em dezembro, rompem definitivamente. Kafka viria a morrer sete anos depois, a 3/6/1924.
Kafka e Felice jamais viveriam a felicidade do encontro do amor realizado. Mas seria o amor vivido na imaginação febril do escritor, pleno de utopias e de visões do paraíso projetados no futuro, um amor menos real do que o tecido do cotidiano? Um belo livro.
LEGENDA FOTO 1 - Franz Kafka: a história de uma vida um tanto trágica explode em "Cartas para Felice".
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