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Aramis

Leonard Cohen, até que enfim, chega ao Brasil

Se o marketing fonográfico faz com que o rock (e o lixo sonoro) de consumo, modismo, tenha hoje edições simultâneas em termos internacionais - e a mesma gravação chegue nas lojas do Brasil com um atraso máximo de 60 dias, a qualidade e o talento de muitos nomes continua a ser ignorada pelas gravadoras. Dois exemplos: Rod McKuen, 56 anos, compositor, cantor, poeta, dono de uma obra imensa e admirável, que já mereceu ter suas canções gravadas num histórico álbum de Sinatra ("A Man Alone", 1968), fez trilhas sonoras antológicas ("Joana", "A Primavera de uma Solteirona"), continua a ser um ilustre desconhecido entre nós - e raras vezes seu nome apareceu em nossa imprensa - mesmo nas colunas especializadas. Outro esquecido é o canadense Leonard Cohen, também com 56 anos, cantor e compositor, um dos nomes mais respeitados no eixo Nova Iorque-Montreal-Quebec - e também conhecido na Europa, mas que até agora permanecia inédito entre nós. Permanecia porque felizmente, num excelente pacote internacional, em maio, a CBS incluiu "I'M Your Man", recente (1987) disco gravado por Cohen e que se constitui numa amostragem de seu imenso talento. Desde 1966 que Leonard Cohen tem uma presença significativa não só no Canadá mas também nos Estados Unidos, com músicas como "Suzanne" (gravada por Judy Collins), "So Long, Marianne" (lançada por Noel Harrison), "Sisters of Mearcy" e álbuns como "Songs of Leonard Cohen" e "Songs from a Room". "I'm Your Man", com oito de suas composições, é bem representativa de Cohen. Com sua voz rouca - lembrando um pouco a Tom Waitts - e letras imensas (como o cearense Belchior gosta de fazer no Brasil), aborda temas diversos - mas sempre voltado a uma tônica romântica. Embora com toques críticos. Por exemplo, na faixa de abertura, "First We Take Manhattan", fala de uma conquista (profissional?) na Big Apple mas que deve passar por Berlim. Em "Ain't No Cure for Love" fala das dores do coração, temática que retoma em "Everybody Knows" e "I'M Your Man" - mas nesta já com uma extensão bem mais ampla. "Take this Waltz" nos remete, ironicamente, ao cenário de Viena, enquanto "Jazz Police" é uma bem humorada proposta. "I Can't Forget" também tem o humor e, no encerramento, "Tower of Song", cita seu amigo Hank Willians, nome famoso da country music. Utilizando poucos músicos e dividindo os vocais com Anjani, em alguns momentos há efeitos de como se tivesse um grande coral - graças a duplicação de vozes. Sensível e profundo, com sua voz profundamente marcante e letras que exigem uma atenta leitura (felizmente, publicadas na contracapa do álbum), Leonard Cohen se constitui numa revelação para os brasileiros - apesar de seus quase 30 anos de estrada. Que venham seus outros álbuns - e que são muitos - assim como se espera que algum outro diretor artístico tão sensível quanto Maurício Quadrio, responsável por esta edição de Cohen, lembre-se de trazer ao menos fonograficamente, Rod McKuen para o Brasil. Ou será que só após a sua morte é que se lembrarão! xxx No mesmo pacote que trouxe Leonard Cohen, a CBS apresenta dois excelentes instrumentistas que, salvo engano, também estavam inéditos entre nós. Um deles é o violonista Fareed Hague ("Voices Rising"), compositor e solista da maior densidade. De origens libanesas, mas formação americana, Fareed oferece um som acústico, profundo, somando influências clássicas no seu violão e desenvolvimento em temas próprios como "War of the Worlds" e "Winter's Tale". A outra revelação é do pianista Michael Camilo, já conhecido junto aos círculos mais (bem) informados jazzisticamente, mas ainda inédito para a maioria. Com assumidas influências brasileiras, traz temas deliciosos, com um swing bossanovista, como "Suite Sandrine", "Nostalgia", "Dreamlight", "Yarey", "Caribe" e, na linha bem brasileira - especialmente "Pra Você" - dedicada a pianista Tânia Maria (que há anos faz sucesso em Nova Iorque, sua amiga e que por certo influenciou em sua abertura para nossos ritmos) e um "Blue Bossa", que, seguramente, estará entre os dez melhores temas instrumentais do ano. Gravado em janeiro/fevereiro do ano passado, Michael Camilo reuniu músicos da melhor qualidade - como Dave Wecki (bateria), Marc Johnson (baixo), Lincoln Goines (baixo) e Joel Rosenblat (bateria), além de uma participação especial do conhecido Mongo Santamaria tocando congas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
22
04/06/1989

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