Na Global, o importante é o escritor brasileiro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de fevereiro de 1985
Não há dúvida: o escritor brasileiro é o centro das atenções da Global Editora durante este ano de 1985. "Aliás", continuará sendo, porque o projeto editorial da Global está todo voltado para a ficção nacional, para a poesia, para a criação do autor deste Brasil" diz, com otimismo, seu diretor editorial, José Carlos Venâncio, acrescentando:
"Os tempos são outros. De mais esperança econômica. De mais liberdade. A censura está de tesoura cega. E a Global Editora que, em outros tempos de dureza foi ousada em desafiar proibições insensatas, mantém-se, nos novos tempos, a imprimir novos rumos editoriais pensando no brasileiro. No público e no escritor".
LOYOLA PÉ QUENTE
A Global tem publicado muitos best-sellers. Que no caso não significam apenas livros de boas vendas, mas obras de qualidade. Um exemplo: "O Verde Violentou o Muro" de Ignácio de Loyola Brandão. Está em todas as listas dos livros que continuam dos mais vendidos. Agora, muita expectativa pelo novo livro deste ex-repórter da "Última Hora" e hoje um dos mais conhecidos autores brasileiros - com obras já editadas em várias partes do mundo. Em abril, a Global lança seu novo livro: "O Beijo Não Vem da Boca".
Fernando Coelho, assessor da Global, dá uma dica:
"Por incrível que pareça é uma história de amor com final feliz. O livro começa na cidade de Berlim, mas a ação se localiza em São Paulo e termina em Olinda, numa explosiva terça-feira de carnaval com muito suor e frevo".
PARA TODOS OS GOSTOS
A programação da Global procura ser a mais eclética possível. Por exemplo, para a série "Os Melhores Poemas" estão previstos seleções de Olavo Bilac, Alvares de Azevedo, Gregório de Matos, Augusto dos Anjos, Alphonsus de Guimarães, Bocage e Luís Delfino - selecionados por críticos e professores de literatura da maior competência.
A Global não fica apenas nos poetas já consagrados (na série "Os Melhores Poemas" estão ainda Joaquim Cardoso, Mário de Andrade, Luís de Camões e Mário Faustino) mas se volta aos novos. Para tanto existe a coleção "Navio Pirata", na qual saiu, no ano passado, o inovador "Blues Paixão" de Miguel Pereira, repórter da "Folha de São Paulo". A coleção Navio Pirata abriga autores considerados malditos, marginais, mal-comportados. Amados ou odiados. De início estão programados livros de poesias da londrinense Miriam Paglia Costa, ex-diretora de arte e cultura da revista "Visão" ("Coração Trouxa") e Fernando Coelho ("A Lua de Sal") - além de texto de Márcia Denser ("Diana Caçadora") e Leila Miccolis ("Em Perfeito Mau Estado").
Outra coleção da Global é a Múltipla que tem uma deliciosa proposta: revelar os inéditos e ricos filões da moderna ficção brasileira. Como explica José Carlos Venâncio, "Gente boa, autores de fino talento. Gente que precisa visitar todas as estantes e todos os travesseiros". Assim estão programados livros inéditos de Mário Pontes, Fausto Cunha e Silvino Santiago. Publicação póstuma de "O Bonde da Filosofia" de Hamilton Trevisan. A segunda edição do livro "Um Homem Dentro do Mundo" de Oswaldo Alves, grande revelação do autor, atualíssimo embora tenha saído, em sua primeira edição, há mais de 40 anos. O livro "O Cântico do Galo" de Manoel Lobato e o novo livro de Edla Van Steen - que residiu muitos anos em Curitiba - com o título provisório de "O Seio Postiço". Programados ainda "Tiaté", do escritor e diplomata Luiz P. Cardoso, completando assim a trilogia "A Arquitetura do Caos", iniciada com "Empedradura ou Empedriada?" e "Tatubá". de Edgard Rocha Miranda, "O Profeta da Vila Valqueire"
O UNIVERSO DO CONTO
O conto tem cadeira cativa na Global. Selecionadores do mais alto nível queimam as pestanas sobre obras dos nossos maiores contistas para ótimas antologias. Assim Dionísio Silva, um catarinense de passagem por Curitiba e hoje professor universitário em São Paulo, selecionou os melhores contos de Ignácio de Loyola Brandão; Helena Parente Cunha escolheu os melhores contos de João do Rio; Moacyr Amâncio selecionou os do pernambucano Hermilo Borba Filho, enquanto Geraldo Galvão Ferraz estudou a obra de Adelino Guimarães para escolher seus melhores contos. Outros volumes serão dedicados a Nelida Piñon, João Antônio e João Alphonsus.
Para quem gosta de obras de vanguarda, a coleção "Singular & Plural" abrigará, de início, duas propostas arrojadas: "Pássaro Selvagem" de Roniwalter Jatobá e o "Discurso da Mulher Absurda" de Joyce Cavalcanti.
Em compensação a coleção "Histórias Inesquecíveis" traz clássicos consagrados. Edla Van Steen traduziu "Aula de Canto" de Catherine Mansfield; Tatiana Bellinski traduziu "Um Homem no Estojo" de Anton Tchecou enquanto a Ary Quintella e Flávio Kothe couberam a tradução de "As Histórias de Kafka" e "Castelo Mal Assombrado" de Hoffman, respectivamente.
ARMAZÉM DO TEMPO
"Walden ou A Vida nos Bosques", de Henry David Thoreau - considerado uma espécie de bisavô dos beatniks e que no século passado já mostrava preocupações ecológicas - inaugurou a simpática "Coleção Armazém do Tempo", pela qual saiu agora "Os Papéis de Aspern", de Henry James. Próximos lançamentos: "O Agente Secreto" de Joseph Conrad; "O Gatuno" de Quevedo; "Capitão Singleton" de Daniel Defoe; "Jóias Indiscretas" de Didreto e "Pequena Fada" de Georges Sand.
OFERTA GERAL
As ofertas da Global são múltiplas. Outra coleção é de "Literatura em Perspectiva", dirigida pelo mestre Massaud Moisés e que publicará a partir de março volumes da importância de "A Poesia Medieval Portuguesa", "O Conto Realista Português" e "Poesia Simbolista Portuguesa". Atingindo outras áreas, "Ground Global" incluirá obras que, facilmente, chegarão entre os mais vendidos: "Dieta para um Pequeno Planeta" de Francis Moore Lapée; "O Livro do Do-In" de Michio Kushi; "Iniciação ao Naturalismo" de Vilberto Felipe e até "A Arte Caseira de Fazer Pão".
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