O (bom) som da Noite
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de julho de 1977
O ambiente é humilde, quase pobre: algumas mesas toscas, cadeiras de palha numa sobreloja onde dois exaustores disfarçados não conseguem retirar toda a fumaça do ar. Em compensação, não se poderia respirar um ambiente mais musical. Não há atrações contratadas e o fato de dar uma "canja" não significa que a bebida fique por conta da casa. Mas nem por isso a cada noite deixa de aumentar o movimento e a presença do que há de melhor na nossa música popular. São nomes já conhecidos de nosso meio musical ou simples amadores comparecem na Alameda Cabral, 313, para mostrar uma nova canção ou relembrar um velho sucesso, no íntimo e acolhedor bar Sibemol, que Luis Carlos Costa Reis Junior, 32 anos, 27 de harmônica, 20 de violão e 15 de baixo, está sabendo fazer.
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Luis Carlos, um dos raros executantes de harmônica com improvisações que lembram o seu amigo e mestre Maurício Eihnhorn, que é um compositor e instrumentista que só agora está podendo mostrar melhor o seu trabalho. E com sua cordialidade musical, atrai gente que também faz música mas, profissionalmente em outros setores, esconde do público tais habilidades. Por exemplo no domingo à noite, quem passou pelo Sibemol pode conhecer as belíssimas músicas de Luis Carlos Gomes Marques e Leôncio Ubiratam Peres, dois gaúchos que agora radicados em Curitiba, [têm] condições de , [tranqüilamente], abandonar suas rendosas profissões - técnicos em climatização - e tentar a vida musical. Carlos Gomes, 27 anos, gaúcho da cidade de Rio Grande, além de um violão seguro, demonstra muita bossa na interpretação de suas músicas com letras de seu parceiro Bira, o [Leôncio] Ubitaran Peres.
Lápis (Palmilor Rodrigues), o bom e estimado crioulo de nossa vida musical, após andanças pelo Norte do Estado, de volta a Curitiba, é outras das presenças do Sibemol, endereço que ao lado do Marito's - está uma casa de choro - se inclui um nosso raquítico roteiro noturno. E, na humildade e simplicidade de suas mesas, entre muita fumaça, há sempre um som gostoso - principalmente nas horas mais tardias, quando os "batuqueiros do chope" deixaram as suas meses vagas para quem sabe apreciar um som realmente brasileiro. Como Luis Reis, na harmônica e Lápis, no violão, fazendo "Chuva", a obra-prima de Durval Ferreira/Pedro Camargo, que Maurício Einhorn imortalizou.
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