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Aramis

Os caminhos difíceis do Centro Politécnico

Há algumas semanas um assessor de grande empresa de São Paulo veio a Curitiba para localizar um professor no Centro Politécnico. Dirigiu-se ao campus e levou nada menos que 100 minutos para conseguir alguma informação que lhe permitisse encontrar o professor. A todos que perguntava - funcionários, professores e mesmo alunos - não conseguia qualquer indicação segura. Depois de andar mais de 1.800 metros por corredores ao longo de vários edifícios, finalmente conseguiu achar o professor. Ou melhor, a sua sala, pois nesta altura, o mesmo já havia ido embora. xxx Situações com esta - entre o cômico e o irritante - repetem-se quase que diariamente no Centro Politécnico Professor Flávio Suplicy de Lacerda. Na imensidão de seus edifícios que ocupam 97.187 metros quadrados - de uma área de 629.200 metros quadrados - espalham-se centenas de gabinetes, salas de aula, laboratórios etc., de mais uma dezena de cursos que ali funcionam. Uma verdadeira cidade, com setores diferentes - mas a qual falta uma coisa simples: sinalização. xxx Apesar de, na entrada, existirem dois painéis com algumas indicações dos setores principais, a localização para as salas específicas é desafio mesmo aos professores que desde o início dos anos 60, quando o Centro Politécnico foi implantado, ali lecionam. Para os estudantes, já há a tradição do primeiro mês - especialmente aos calouros - ser gasto para saber onde terão suas aulas. E, naturalmente, cada aluno só sabe de seu roteiro - não tendo condições de prestar informações sobre a localização de outros setores. xxx O professor Tadeu Jaworski, 57 anos, da cadeira de Materiais de Construção do curso de engenharia civil, mas desde 1987 na Prefeitura do Centro Politécnico, concorda que a sinalização é precária. Procurando justificar esta falha que tanto irrita a todos que direta ou indiretamente são obrigados a procurar o campus da septuagenária Universidade, o professor Tadeu diz que há tempos já se "estuda" um projeto mais abrangente, capaz de dar uma sinalização moderna, de fácil identificação e que discipline o tráfego no verdadeiro labirinto que formam as dezenas de construções do Centro Politécnico. xxx Chega a ser até curioso que a Universidade Federal do Paraná mantendo um sofisticado curso de Desenho Industrial - com especialização na área de programação visual - não tenha, até hoje, recorrido aos professores e alunos desta área para desenvolver um projeto tão necessário. Acostumados a exigir dos alunos do curso tarefas muitas vezes absolutamente supérfluas, os iluminados professores de Desenho Industrial / Programação Visual poderiam, há muito, ter colocado como tarefa prática um estudo para melhor visualizar o Centro Politécnico. Por mais precário que fosse, pior não seria da situação atual. No curso de arquitetura também há professores apaixonados por programação visual que, devidamente motivados, poderiam dar uma contribuição. Manoel Coelho, por exemplo, que deixou a direção do departamento de arquitetura para assumir a Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Curitiba, é um dos melhores designers do Brasil, autor de dezenas de projetos - mas que nunca foi motivado para solucionar o problema justamente na casa em que trabalha. xxx A falta de sinalização é apenas um dos muitos problemas enfrentados pela Prefeitura do Centro Politécnico. Por exemplo, embora disponha de 50 jardineiros a conservação da imensa área verde é precária. Não há funcionários para as guaritas de entrada e - mais grave - a segurança é precaríssima. Já houve vários casos de assalto a mão armada dentro do Centro e dezenas de veículos foram roubados - fazendo com que professores e alunos tenham que colocar sistemas de alarme para evitar de terem seus automóveis "desaparecidos" em plena luz do dia. Não deixa de ser grave, quando um campus universitário passa a ter problemas de segurança desta ordem. Afinal, ao invés do ensino e pesquisa, a violência e o roubo passam a preocupar professores, alunos e administradores.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
08/04/1989

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