Login do usuário

Aramis

Teatro, memória & livros

Já está impresso - e aguardando apenas a data de lançamento - o tão aguardado "Aspecto da História do Teatro na Cultura Paranaense", de Benedito Nicolau dos Santos Filho, 238 páginas, editado após anos dos originais correrem gabinetes de vários setores culturais - e que, concretamente, teve na atual diretoria da Fundação Teatro Guaíra, apoiado pelo conselho deliberativo, o instrumento para sua viabilização. Trabalho de pesquisas de muitos anos do professor Nicolau dos Santos Filho, mestre de português dos mais admiráveis, autor de dez livros publicados e 13 outros ainda inéditos, representa o primeiro trabalho para a memória do teatro paranaense - um dos aspectos mais carentes de nossa cultura e história. Inexistia, até agora, qualquer livro sobre o nosso teatro, em seus aspectos históricos e sociais e, por várias vezes, ao empreendermos pesquisas para reportagens sentimos a total ausência de informações e documentação, mesmo de aspectos recentes, como, por exemplo, o que se fez nas décadas de 50, quando Ary Fontoura - um nome nacional, ensaiava seus primeiros passos para o profissionalismo que hoje atingiu. Só a organização de um amigo de infância e colega de teatro amador de Fontoura, o hoje advogado e professor Renê Dotti, permitiu levantar alguns dados com maior precisão. Organizado em vários álbuns. Dotti guarda programas, recortes e fotos do período em que participou diretamente do teatro paranaense - inicialmente como ator, depois, já jornalista do "Diário do Paraná", alternando-se com Eddy Antônio Franciosi (também autor e diretor, que está voltando a trabalhar nesta área) na crítica teatral - que nos anos cinquenta chegou a ser tão ativa ao ponto de justificar a criação da Associação dos Cronistas de Teatro de Curitiba, fundada por Nelson Faria de Barros (hoje assessor da FTG) e editor de algumas revistas do grupo Grafipar e Cleon Ricardo dos Santos, hoje arquiteto, assessor técnico da Empresa Brasileira de Transportes Urbanos, em Brasília. Armando Maranhão, desde 1948 fazendo teatro no Paraná - e mantendo até hoje o Teatro do Estudante do Paraná, com o qual já participou de mais de 50 festivais, é outro dos poucos a se preocuparem com a nossa memória teatral - embora até hoje não tivesse condições de viabilizar algum projeto de pesquisa de maior fôlego. E só foi possível restabelecer a data exata da estreia da primeira peça apresentada no auditório Salvador de Ferrante porque Alceu Stangue Monteiro, hoje professor do SENAC, na época mesmo sem ocupar o cargo de superintendente daquela unidade (então subordinada diretamente a Secretaria dos Negócios do Governo) organizou um álbum, contendo os programas das cinco peças que a Companhia Dulcina Odilon ali apresentou somente a partir de 25 de fevereiro de 1955 - ou seja, 68 dias após o prédio ter sido inaugurado, a 19 de dezembro de 1954, pelo então governador Bento Munhoz da Rocha Neto (1905-1973), e presidente João Café Filho (1811-1970). Até agora atribuía-se a peça "Os Inocentes", adaptado por Willian Archibald do conto "A Outra Volta do Parafuso" (The Turn of the Screw, 1818) de Henry James (1848-1910) - com a que abriu a temporada de Dulcina de Moraes (hoje aos 68 anos, aposentada, residindo em Brasília) e Odilson Azevedo (1907-1966), quando na verdade foi a comédia "Vivendo em Pecado", de Terrence Rattingan. Modestamente, Alceu Monteiro teve o cuidado de guardar fotos, programas e até mesmo a planta baixa do auditório - reinaugurado agora em fevereiro último - além de exemplos dos primeiros ingressos e até a permanente especial do governador, para a temporada inaugural. Lembramos este fato apenas como exemplo da precariedade de nossa história, não a dos séculos passados, mas mesmo a mais recente, o que torna dos mais válidos o entusiasmado com o qual o secretário Luís Roberto Soares, da Cultura e Esporte, aprovou o projeto a ser desenvolvido para reconstituir e preservar a nossa memória, não apenas na área teatral - mas em todos os setores carentes (músicas, cinema etc). A bibliotecária Maria Teresa Lacerda, incansável estudiosa da cultura paranaense, empreendeu uma pesquisa sobre o Teatro São João, da Lapa - restaurado há 3 anos - e sentiu, como todos que se propõe a tarefas de garimpar o passado, a falta de documentação, de veredas capazes de esclarecerem fatos. Assim, com o professor Nicolau dos Santos reunindo crônicas, textos avulsos, informações, relatos sobre o teatro paranaense - e tendo para isso principalmente a riqueza do arquivo organizado e deixado por seu pai, o musicólogo, jornalista e escritor Benedito Nicolau dos Santos (1878-1939), deu uma primeira contribuição a um campo imenso, que está a exigir muito trabalho e dedicação - bem coordenado e que vai enriquecer enormemente patrimônio cultural do Paraná área das mais eficientes dentro do flexível e operacional organograma piloto que o secretário Luís Roberto estruturou para que a sua pasta possa, a curto prazo, começar a deslanchar um excelente programa de atividades - e para o qual está procurando formar a melhor equipe possível. E o setor editorial - junto com a da pesquisa - está entre as metas básicas, já com os primeiros projetos em elaboração, para que o Paraná a exemplo do que ocorre em tantos outros Estados, tenha uma presença efetiva no campo das publicações que realmente interessam a nossa formação histórica, social leitor assíduo. Luís Roberto está mostrando, nestas suas primeiras semanas de administração, sensibilidade para áreas que foram congeladas nos últimos anos, relegadas ao mais completo abandono muitas vezes com prejuízos irrecuperáveis no que diz respeito ao extravio e destruição pura e simples de originais, filmes, fotografias, além daquela que é a mais importante - mas mais esquecida de todas - a memória e história oral, necessária de ser recolhida antes que as pessoas que podem opinar e informar deixem o nosso convívio. *** O ator, diretor e ator Maurício Távora, que hoje a noite faz suas duas últimas apresentações da comédia "De Cabo A Rabo", no pequeno auditório do Guaíra - uma peça leve, descomprometida e que tem agradado ao público - ao acertar com o prefeito Sérgio Leone, da Lapa, a temporada do espetáculo naquela cidade - de 6 a 8 de abril - não só ofereceu a chance de um dos mais belos teatros brasileiros ter uma utilização, mesmo que rápida, como ofereceu festival de inverno, com características próprias, considerando a proximidade da Lapa a Curitiba, sua tradição histórica, seu original teatral (um dos dois únicos ao estilo elisabeteano existentes no Brasil). Restaurado em 1976, o Teatro São João tem permanecido ocioso justamente por uma falta de programação integrada outra das metas básicas e prioritárias do secretário Luís Roberto Soares. Não só a Lapa, mas Antonina - onde a Paranatur pretende reciclar a antiga estação ferroviária num centro cultural. Paranaguá. União da Vitória e outras cidades necessitam de uma ativação cultura, sólida, de raízes - e não demagógicas (e onerosas) promoções como as que foram realizadas no passado - sem deixar frutos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
01/04/1979

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br