Temporada dos sambistas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de dezembro de 1984
A temporada dos bons sambistas está aberta. Na batalha de vendas do final do ano, enquanto a RCA lanças os novos elepês de João Nogueira, Martinho da Vila e Beth Carvalho, a Odeon ataca com Roberto Ribeiro e, em sua estréia na Copacabana, reaparece o versátil Luiz Ayrão. Jair Rodrigues, Alcione e Dicró, entre outros, já chegaram há algum tempo com novos discos - numa prova de que apesar das lamentações, o mercado continua farto.
ROBERTO RIBEIRO é, reconhecidamente, um dos bons sambistas brasileiros. Voz segura e redonda, este fluminense de Campos, ex-jogador de futebol, tem emplacado alguns sucessos merecidamente. Compositor eventualmente, é bastante inteligente ao selecionar o repertório de seus discos. Em "De Palmares ao Tamborim" (Odeon) fez um equilíbrio entre sambas de grande vibração - a começar pelo que dá título ao disco (uma animada composição de David Corrêa/Jorge Macedo) a trabalhos mais românticos, como "Maior que o Mar" (João Nogueira/Nunato Buzar). O baiano Nelson Rufino, que lhe forneceu há alguns anos um de seus maiores sucessos ("Todo Menino é Rei"), comparece com "Ciganinha", composição de fácil balanço. Como compositor, Roberto divide parcerias com Toninho Nascimento ("Braços Abertos", "Lágrima Morena"), mas os melhores momentos ficam como Claudio Jorge/Nei Lopes ("Maculelê do Tamanduá"), Roque Ferreira ("Nêgo Benguela"), Paulo Debetio/Joavenil Santos ("Eu, Avenida, Você") e, especialmente Mauro Duarte/Paulo César Pinheiro ("Aventura"). Excelentes músicos (incluindo Rafael 7 cordas e Geraldo Vespar) cuidadoso acabamento fazem deste um bom disco de final de ano.
LUIZ AYRÃO sofre o estigma de ter, a exemplo de Jorge Bem, uma carreira camaleônica em termos de composição. Já fez músicas para a Jovem Guarda e é capaz de oscilar entre a canção abolerada até ao mais entusiástico samba. Depois de anos na Odeon - onde sua carreira muitas vezes se confundia com a [de] Roberto Ribeiro - Ayrão estréia na Copacaba ("Alegria Geral", novembro/84). Mesmo sem ainda ter uma definição essencial, mostra, no mínimo, sendo de marketing. Por exemplo, é capaz de exaltar os méritos dos quarentões ("Vinho Velho"), encaixar um sambista como motoqueiro ("Aventureiro"), fazer blague ("Roqueiro") e, na parceria com Totonho, buscar um romantismo dor-de-cotovelo em "Brisa Errante" ("Foste uma canção/Eu te cantei e te aprendi/Como lição/Te escrevi e te guardei/Com devoção/Falou mais alto o coração").
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