Xico, o escultor das belas formas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de abril de 1987
As marchands Ida Axelrud e Anita Guelmann conseguem dar um diferencial à galeria que possuem na alameda Dom Pedro II, 255. Profissionais respeitadas e sérias num setor que teve um boom de discutível credibilidade tal o número de aventureiros(as) que apareceram nos últimos anos, Ida & Anita sabem escolher os artistas para suas exposições. Por exemplo, durante anos tiveram a exclusividade nos trabalhos de Juarez Machado, hoje em Paris e que só agora vai fazer uma mostra de trabalhos recentes - aliás em outra honesta galeria da cidade, a do arquiteto Waldir Assis.
Quinta-feira, à noite, Ida & Anita abriram as portas de sua galeria para a mostra de esculturas de Xico Stockinger, nome maior desta arte e que há muito não fazia uma individual entre nós. Paralelamente, também estarão expondo trabalhos de Zuleno, 67 anos, pernambucano de Pesqueiro, que nos últimos 8 anos vem ganhando espaço nacional. Se Stockinger é, há muito um nome consagrado, Zuleno teve só a partir de 1979 um maior reconhecimento, especialmente quando o professor Pietro Maria Bardi admitiu seus trabalhos numa mostra do MASP e declarou-se impressionado por "sua mística aproximação com o cotidiano que poeticamente recompõe em pinturas líricas, ricas de sentimento: o crepuscular cheio de inspiração emotiva".
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Quando veio a Curitiba pela primeira vez, Francisco Stockinger foi homenageado por Fernando Velloso, na época já atuante animador cultural da cidade, com um encontro informal em sua casa. Velloso havia chegado há pouco da Europa e, entre suas preciosidades, trazia os primeiros discos (a chegarem em Curitiba) com peças de autores de vanguarda, como Schoensberger, Pierre Boulez, John Cage e outros introdutores daquilo que, na época, se chamava de "música concreta". Assim, a reunião girou sobre música de vanguarda, com discussões acaloradas sobre as propostas inusitadas que os presentes - entre os quais os artistas João Osório Brzezinski, Fernando Calderari e Cleto de Assis - ouviam pela primeira vez. Xico Stockinger, entre um copo e outro de uísque, concordava e discutia animadamente. Só que havia um detalhe, revelado no final: Xico já era surdo como uma porta e, durante horas, ficou participando de um bate-papo sobre um assunto do qual só tomava conhecimento através da leitura dos lábios dos outros convidados e do anfitrião. Entretanto, dava opiniões que o faziam crer como um conhecedor profundo daquilo que era "ouvido".
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Francisco Stockinger, austríaco de nascimento, ex-aviador, que há muitos anos optou em ser simplesmente Xico, é hoje um dos escultores mais respeitados do Brasil. Morando em Porto Alegre, não dando conta dos pedidos, este ano decidiu fazer seis exposições em vários Estados e lançar um livro sobre sua obra, apresentado oficialmente no último dia 13, no Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro), quando o artista, generosamente, ofereceu seis esculturas suas, de mármore, a seis museus de arte do Brasil.
Na verdade, foi a Iochpe - poderoso grupo econômico gaúcho - que bancou o custo dessas seis belas esculturas, bem como ajudou na edição do livro - num investimento de Cz$ 4 milhões, devidamente estimulados pela Lei Sarney. Apesar da subvenção da Iochpe, o livro não é barato: custa Cz$ 1.300,00 o exemplar - mas considerando o custo de suas esculturas (as doadas aos Museus, valem Cz$ 250 mil cada) até que são baratas.
Homem simples, de aparência modesta, Xico tem, entretanto, uma descendência ilustre: filho de austríaco e mãe inglesa sempre estudou em colégios onde se falava inglês. Em 1964, na II Bienal de São Paulo, conheceu Henry Moore, em sua opinião o maior escultor contemporâneo. Ficaram amigos. Lembra Xico: "Era bem britânico, fino e calmo". O mesmo não diz de Alexander Calder, o inventor do móbile, que vivia bêbado.
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Enquanto Xico Stockinger e Zuleno vieram para a vernissage na Galeria Ida & Anita, Fernando Velloso, ex-diretor do MAC e agora também marchand, abriu as portas de sua galeria Contemporânea (Rua Gonçalves Dias, 164), para a mostra "Parcerias", que reúne trabalhos dos curitibanos Regina Buchner Freitas e James Christian Fritisch. Aurélio Benitez, crítico de artes plásticas de "O Estado do Paraná", comentando que Regina volta a realizar uma individual após 7 anos, procura agora "sacudir um pouco a curiosidade do espectador através da tarja que corta as suas paisagens". James Christian é apresentado por Durval Pereira, de São Paulo, que o classifica como "um pintor de muitos recursos".
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Já o Museu de Arte Contemporânea, agora dirigido pela crítica Adalice Araújo, aciona as turbinas de sua programação e começou programando uma coletiva na Sala Miguel Bakun, inaugurada quarta-feira, dia 14: "4 Versões da Paisagem".
Participaram os artistas Christina Fauquemont, Djalma de Souza, Eloina Motta e Nelson Kume.
LEGENDA FOTO - Xico Stockinger: exposição e livro.
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