Clássicos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de julho de 1976
YEPES INTERPRETA RODRIGO - Narciso Yepes, espanhol de Lorca, 49 anos, é um dos mais vigorosos violonistas contemporâneos. Estreou em apresentação pública em Madri aos 20 anos com o "Concerto de Aranjuez" e hoje faz [freqüentes] tournées pela Europa, América e Japão. Um de seus autores favoritos, é Joaquim Rodrigo (Sagunto, província de Valencia, 22 de novembro de 1902), conhecido no Brasil principalmente por "Concerto de Aranjuez" (1939), mas com uma obra numerosa. E um dos melhores discos de Yepes é justamente o que ele, acompanhado pela orquestra sinfônica da Rádio e Televisão Espanhola, com regência de Ódol Alonso, interpreta duas peças de Rodrigo: o consagrado "Concerto de Aranjuez" e, no lado 2, "Fantasia para un Gentilhombre", de 1954. Joaquim Rodrigo, vitimado pela cegueira aos 3 anos, dedicou-se desde muito à música, sem ser contudo, um menino prodígio. Recebeu suas primeiras instruções musicais do compositor e professor de estética e história da música, Lopez Chavirini. Em 1927 viajou a Paris, onde, em 39, comporia o "Concerto de Aranjuez", sua obra mais conhecida, agora, juntamente com "Fantasia para un Gentilhombre", num registro soberbo de Yepes, neste lp Deutsche Grammophon / Phonogram (1139440, maio/76), em sua série de luxo.
PINCHAS ZUKERMAN REGENDO A ENGLISH CHAMBER ORCHESTRA (CBS, 160227, maio/76) Este lançamento reúne duas importantíssimas peças: o "Quarteto de Cordas" de Giusepe Verdi (1813-1901), em arranjo para orquestra de cordas e a "Sonata Pra Cordas Nº 1"222, de Gioacchinio Rossini (1792 - 1868). É interessante o conhecimento deste disco, porque como lembra o crítico Roberto Jones, na lúcida nota de contracapa, "nem Giusepe Verdi [nem] Gioacchino Rossini forma conhecidos expoentes da música de câmara. Seus corações - e sua fama estão no tetro de ópera, lugar em que poderosas emoções e enormes massas de som poderiam atingir os maiores efeitos".
DANÇAS ROMÂNTICAS PARA PIANO A 4 MÃOS - São raras as oportunidades de artistas eruditas em fazerem gravações no Brasil. Por isso, deve-se saudar, com entusiasmo, algumas iniciativas ocorridas nos últimos meses: o lançamento pela Phonodisc, da Continental, com o elepe "Sonata e Quatro", com o Quarteto Guaíra - que por sua importância comentaremos na próxima semana - e o aparecimento, pela respeitada o "Red Label" da RCA Victor, do lp "Danças Românticos Para Piano A 4 Mãos". Yara Ferraz, 37 anos, paulista de Assis, que estudou no Brasil, França e Itália e já se apresentou, em recitais e como solista com orquestras no Brasil, Europa e Estados Unidos. Junto com Amaral Vieira, 24 anos paulista da Capital, igualmente com estudos e apresentações em vários países, foi escolhida para gravar as "Danças Românticas Para Piano A 4 Mãos", um elepe muito bem produzido, que revela também Amaral Vieira como compositor, autor da "Andante e Mazurka Tempestuosa", que abre o lado A. No lado A, temos "Quatro Danças Eslavas" de Antonin Dvorak (1841-1904), compostas em 1878. No lado B, estão 16 valsas de Johannes Brahms (1833-1897), apresentadas na contracapa, assinada pelo maestro Walter Lourenção, "como 16 pequenas peças, quase que pequenos perfis psicológicos. Embora fosse grande admirador das valsas dançantes de Strauss, Brahms não compôs peças de expressão corporal, mas sim psíquica. Brahms é refreado, tudo é muito pensado, proposital, medido, contido, o que não prejudica sua inspiração. Estas valsas são verdadeiros pensamentos musicais, cujo fio condutor é mais reflexão sobre sentimentos do que propriamente sua descrição. Isto, sem nenhum prejuízo do brilho de que ele reveste a linguagem musical".
"ENCORES" COM ERNESTO BITETTI (Chantecler / Hispa Vox, 4-13-406-013, junho/76) - Estimulada, por certo, bem sucedida excursão que o violonista argentino Ernesto Bitetti fez pelo Brasil, no mês passado (em Curitiba, a Pró-Música realizou o seu concerto no auditório da Reitoria, dia 6 de junho), a Chantecler está lançando um excelente elepe com este jovem guitarrista, argentino de Rosário, Bitetti começou a estudar violão aos 5 anos, [freqüentou] o Instituto Superior de Musica de Santa Fé, da Universidade Nacional do Litoral, onde graduou-se em 1964, depois de haver cursado também piano, regência de orquestra e coral, flauta, composição, história da arte, música e literatura. Nos últimos 11 anos, Ernesto Bitetti tem percorridos dezenas de países, em concertos dos mais notáveis - mas, dentro da ignorância que reina no Brasil, em termos de artistas latino-americanos, só agora sai o primeiro de seus 12 elepes feitos na Hispavox.
Felizmente o disco foi bem escolhido. Com um repertório que vai de Heitor Villa Lobos ("Preludio Nº 3") a uma sentida memória a Wes Montgomery ("Sua Razão", do ingles John. W. Duarte), Bitetti demonstra todo o seu virtuosismo, fazendo com que realmente seu nome seja [incluído] entre os grandes guitarristas contemporâneos. Além de Villa-Lobos, incluiu outro compositor brasileiro, Francisco Mignone ("Estudo nº 5"), mas o importante são os autores latino-americanos lembrados. "As abelhas", de Agustin Barrios, compositor paraguaio; "Alfonsina Y El Mar" (amba) de Ariel Ramires, "El Colibri", do falecido guitarrista e compositor argentino Julio Sagreras; "Maperada", de Eduardo Falu - um dos mais notáveis nomes da música folclórica argentina; "Siguenza", de outro autor daquele país, Jorge Martinez Zárate.
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