Como nos bons tempos...
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 02 de abril de 1977
Na primeira metade dos anos 60 o grupo era inseparável: colegas da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, das reuniões de fim de tarde na galeria Cocaco, na Rua Ébano Pereira (onde hoje existe um edifício-garagem) esticadas com aperitivos no Bar Jockey (do qual também só ficou a saudade), nos quais as contas das "batidas", "caipirinhas" e baurus eram fraternal, mas suadamente, divididas - pois dinheiro era coisa rara nos bolsos daqueles jovens candidatos a artistas plásticos. Os anos passaram, cada um seguiu seu caminho: Juarez Machado, em 1965 foi para o Rio e hoje é um nome nacional. Cleto de Assis, após muitas andanças acabou se fixando em Londrina, onde hoje é o diretor da coordenadoria de assuntos culturais da Universidade Estadual. João Osório Brzezinski, Fernando Calderari e Ivens de Jesus Fontoura ficaram em Curitiba, mas, mesmo trabalhando juntos, hoje já não tem mais tempo para os despreocupados e bate-papos em horas mortas, sem compromissos de relógio marcado e, principalmente, a disponibilidade do dia seguinte.
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Por isso, só quem conheceu esses cinco amigos, de uma época que já é distante, seria capaz de entender o real clima de alegria e felicidade, no jantar inesperado, no Matterhorn, na madrugada de ontem. Após a vernissage de Jair Mendes, na Eucatexpo, a esticada transformou-se num encontro de alma & risos, em que se pode perceber que o tempo e os compromissos da roda-viva no dia de cada um, não tirou a amizade com a pureza da juventude daqueles anos 60. Houve risos e trocadilhos (no que Cleto Assis mostra-se um mestre). Juarez, hoje um nome nacional, mas a mesma simplicidade de seus tempos de garoto recém chegado de Joinville, para estudar em Curitiba, falando de seus trabalhos atuais: "Ida e Volta", livro infantil premiado na Feira Internacional de Frankfurt, no ano passado, após ter edições na Inglaterra, França, Itália, Holanda e Japão, finalmente saiu no Brasil, pela Primor, juntamente com "Domingo de Manhã", que também já tem edições contratadas em vários países. Pela Bloch, Juarez publicou "Segredo da Vida", um guia sexual para a infância. Em lua-de-mel há 4 meses, feliz da vida, Juarez está com muitos projetos, mas todos a serem desenvolvidos com tranqüilidade. Considerando-se antes de tudo um desenhista, que oferece o imaginário às crianças, tem sido procurado por empresas para mensagens de comunicação com a infância: o comercial que fez para o grupo Batavo, anunciando o "Pop Milk", veiculado somente em Curitiba, teve aceitação extraordinária. Para a Ika, criou uma linha de malas de viagens especialmente para crianças. Seus desenhos estão hoje em milhões de capas de cadernos, livros e objetos infantis, em todo o Brasil. O nonsense de vários anos nas páginas do Caderno B do "Jornal do Brasil", evoluiu, sem perder a poesia da simplicidade.
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Satisfeito com a efervescência que encontrou em Curitiba com exposições, edições (como o número 2 do "Gibitiba", lançado por Key Imaguire, com a ecologia por tema), Juarez, em sua elegância britânica - terno preto, colete azul com estrelas brancas, usando uma das 15 bengalas de sua coleção, sentenciou:
- Mesmo que a qualidade nem sempre seja a ideal, o importante é que se faça e se crie. Tudo, menos os baianos...
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