Goethe & a cultura
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 30 de setembro de 1976
Apesar de toda a modéstia que cerca o seu trabalho, hoje um professor alemão, Helmuth Lied, diretor do Goeth Institut, é o principal responsável pelo que existe de melhor, em matéria de mostras de cinema, artes plásticas e teatro, em Curitiba. Atuando de forma agressiva e organizada, o Goethe tem uma programação cultural intensa, com o trabalho de pouquíssimas pessoas - apenas Lied, sua esposa Heidy e mais alguns abnegados colaboradores.
Por exemplo, neste início de semana o Goethe movimentou mais uma vez o Paiol, com três apresentações do grupo Baiafro (criado em 71) e Sangue & Raça (criado em 72), fundidos no espetáculo Intercena. Na sala de exibição Arnaldo Fontana do Museu Guido Viaro, é o Goethe responsável por mais de 30% da programação cinematográfica, com mostras tanto de clássicos do cinema alemão, como de filmes inéditos, hoje não só mais da RFA, mas também de outros países. Hoje, por exemplo, será encerrada a VII Mostra do Jovens Diretores do Cinema Alemão, com exibição de " Alice na Cidade" (Alice in den Standen), 1974, de Win Wenders, com legendas em português. Este ano, no Festival de Cannes, Wenders recebeu o prêmio de melhor diretor.
Além de constantes exposições no Museu de Arte Contemporânea, o Goethe não para também suas promoções teatrais. Ao lado de ter co-produzido " Locomoc e Milipili", peça infantil que após percorrer o Brasil está novamente sendo encenada em Curitiba (sábados, 15 horas, domingos, 10 horas, auditório Salvador de Ferrante), o Goethe patrocina a vinda de espetáculos de maior importância cultural. Há alguns meses, tivemos " Mockinpot", de Peter Weiss, pelo Teatro de Arena de Porto Alegre, direção do notável homem de teatro estrangeiro, o espanhol José Luis Gomes. Agora, pela terceira vez os curitibanos terão oportunidade de assistir (auditório Salvador de Ferrante, a partir de amanhã, 21 horas), um espetáculo sob sua responsabilidade: a fascinante tragédia " Woyzeck", de Georg Buchner (1813 - 1837).
Em sua primeira visita ao Brasil, em 1973, Gomez veio como diretor e protagonista de " Informe para uma Academia" de Kafka, " O Pupilo Quer Ser Tutor" e " Kaspar", de Peter Kanke, apresentados uma única noite no Teatro Guaíra. No ano passado, dirigiu para o Teatro de Arena de Porto Alegre, "Mockinpott", que há mais de um ano faz sucesso em várias Capitais. Como informa o crítico Yan Michalski, desde então Gomez não ficou parado na Europa: consagrou-se internacionalmente, ganhando o Prêmio de Interpretação do último Festival de Cannes, pela sua atuação no filme " Puscual Duarte" e co-dirigiu com Camilo José Cela, em Madri, uma versão de " Arturo Ui", de Brechet. Este ano, montou ainda " Woyzeck", peça de Buchner, que já teve duas versões no Brasil, mas é inédita em Curitiba (a primeira, dirigida em 1948, por Ziembinski, para a Companhia de Sandro Polonio e Maria Della Costa; a segunda, em 1970, dirigida por Antonio Pedro, para uma produção encabeçada por Maisa, em sua única tentativa de atuar num palco como atriz).
Texto repleto de motivos de atração, a começar pela fascinante figura do próprio Buchner, uma das personalidades mais complexas do pré-romantismo alemão, morto aos 24 anos de idade, " Woyzeck", em suas três únicas encenações em Curitiba (com ingressos e preços populares) se constitui em um dos mais importantes eventos culturais da temporada.
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