Peladeiros
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 30 de abril de 1978
A mais vitoriosa promoção esportiva realizada no Estado - o Campeonato de Peladas, idealizado pelo jornalista Nelson Comel, há nove anos passados, deverá atingir agora, em nível estadual, mais de duas mil equipes. Independente dos aspectos esportivos deste campeonato, inicialmente restrito a Curitiba, o mesmo é sintomático, em termos sociológicos, sobre o comportamento da população, através de equipes mais diversas representando grupos comunitários, profissionais, colegas de serviço, enfim das mais diferentes classes sociais. E todos numa promoção de integração, que se estende por vários meses, na qual Comel mobiliza centenas de pessoas e comprova, mais uma vez, sua já consagrada capacidade de liderança e coordenação de grandes promoções.
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Um dos aspectos que mais se sente o boom imobiliário de Curitiba, está, justamente, no desaparecimento dos campos livres para a pratica de peladas. A valorização dos terrenos, mesmo os mais distantes do centro, fez com que os chamados "campinhos de peladas", utilizados nos fins de semana, por garotos ou grupos de amigos fossem escasseando e, hoje, praticamente inexistam. Existem, evidentemente, mais de uma centena de campos de peladas, mas pertencentes a clubes, organizações privadas, entidades de classe, etc., e restritos aos seus associados. Com isso, os chamados grupos avulsos, que reunindo pessoas de diferentes setores, sem terem condições de freqüentar um campo específico, ficam praticamente sem terem onde praticar o salutar esporte. Campos pertencentes a determinadas entidades chegam a serem alugados por mais de Cr$ 500,00 por duas horas de partida. Outros, como o do Santa Monica Clube de Campo, tem um esquema tão apertado de utilização - com inúmeros grupos de associados desejando utilizá-los - que chega a desestimular aqueles que faziam da "pelada" uma diversão liberta de compromissos mais rígidos.
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Um dos mais antigos grupos de "peladeiros", coordenado pelo ator Joel de Oliveira, chegou a adotar uma fórmula mais corajosa: praticamente construiu um campo especial, no meio de uma floresta, há vários quilômetros de Curitiba. O acesso é difícil e o local é mantido em segredo - como única forma para evitar que a utilização em demasia da grama natural a faça desaparecer.
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Há grupos de peladeiros tão estruturados que já adquiriram status de verdadeiros clubes. Como o caso da "Pelada do Kaminski", a caminho de seu 30o aniversário; já por várias vezes noticia em nossas colunas. Mas cuja história fica para outra ocasião.
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