Receita para desperdiçar o público cinematográfico
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de março de 1990
A asfixiante sala Arnaldo Fontana da Cinemateca do Museu Guido Viaro esteve superlotada no último fim de semana: adultos e crianças ali assistiram nove excelentes filmes de animação produzidos pelo National Filme Board of Canada, trazidos na mostra comemorativa aos 50 anos desta instituição. Muitos espectadores voltaram devido a falta de lugar, enquanto os que ali permaneceram - apesar do calor - se divertiram com o humor dos desenhos como "A Estória das Pérolas", "Cogumelos", "O Mascote Persistente" e "O Gato Voltou".
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Pelo menos duas pequenas obras-primas foram exibidas. "O Peregrino", 1962, 11 minutos, que é uma adaptação brilhante do conto de Michael Trembaly, "O Demônio e o Cogumelo", que num clima de sobrenatural, tentação, ambição e violência, mostra a fabulosa técnica do animador George Ungar, que usando preto e branco oferece um trabalho de intenso interesse aos que gostam de grafismo. A música original de Normand Rogers acentua cada mudança de imagem, num trabalho notável. Também é a música que compõe o roteiro de "Noturnos" (9 minutos, produção de 1988), outro premiado exemplo da criatividade dos discípulos de Worman McLaren (1914-1987), o grande nome do Instituto Nacional do Filme do Canadá. Também um curta, com bonecos, co-produção com os estúdios Jeri Trinka, de Praga (o pioneiro nesta técnica de filmes) foi um exemplo de obra cinematográfica maior.
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Toda a programação desta mostra trazida pelo National Filme Board of Canada - que prossegue hoje com seis documentários sobre ciência e tecnologia e encerra com 8 produções (filmes de animação e documentários) premiados pelo Oscar entre 1952/85 (quinta e sexta-feira), poderia ter sido programada num dos cinemas da Fucucu, em várias sessões gratuitas atingindo centenas de espectadores. Seria a oportunidade de crianças e adultos assistirem exemplos de filmes curtos, premiados internacionalmente, educativos e belíssimos. Entretanto, ao invés disto, a Fucucu continua na política de, com a desculpa de cumprir a lei de projeção ao cinema nacional, reprisar filmes que já estão à disposição em vídeo e tem apresentado rendas ridículas. "Quincas Borba", por exemplo, no cine Guarani, teve 13 espectadores em uma semana (calcule-se o prejuízo em relação ao custo de manutenção daquela sala). "Amor e Traição", de Pedro Camargo, levou 108 espectadores durante uma semana no Groff; "Jubiabá", de Nelson Pereira dos Santos, 51 espectadores; "O Beijo da Mulher Aranha", 73; "Mar de Rosas", de Ana Carolina, 23; "Das Tripas Coração", 51. Mesmo filmes em lançamento têm tido renda mínima - o que leva ao cancelamento de várias sessões: "Sonho de Valsa", com apenas 281 espectadores e "Lua Cheia" com 79 espectadores.
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Em compensação, mostra como a do cinema canadense - e a do cinema japonês, que inicia na próxima semana - são confinadas a horários incômodos, afastando cada vez mais os espectadores.
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