"Reencontro", o poema da farsa abolicionista
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de dezembro de 1987
Ele é ainda pouco conhecido fora de circuitos específicos: MAZINHO (não confundir com o nosso Carlos Fernando Mazza, o "Mazinha", que é animador cultural). Mazinho foi o poeta convidado para subir ao palco da Sala Glauber Rocha, na abertura do FestRio, e ler o seu poema em homenagem ao casal Mandela. Bom de papo, o poeta fez mais: ao dedicar o pema "Reencontro" não só ao Mandela, mas também "À farsa existente, subliminarmente, em relação a raça negra.
O poema "Reencontro" de Mazinho é duro e contundente. Impresso em posters, teve uma pequena distribuição durante o FestRio. Portanto, justifica sua transcrição - especialmente por antecipar uma das correntes que deverão marcar 1988 - a poesia da negritude.
Negro
abre teu Olho
lança no dia a dia
onde as manhãs repetem
frágil reverência.
Teu Olho é chama
que abre
e gira e lança
o Fogo Ébano
diluindo as dores, não açulando diferença.
Ela rompe dos tons azulados
amálgama catípico
amordaçando o grito
pulverizando a liderança desde o branco caos,
Holocausto Negror
repetido a cada amanhecer.
Negro
a mudez é uma só
Amordaçado
o grito ecoa
tímpanos opressores.
O grito é Um
elemento receptivo da Cardinalidade.
Negro, és Zero
Par que soma do invisível
espáveis acentos de concretitude
a Negritude.
A noite em que teu Olhar
justificar o poema
não verei com olhos
estigmáticos
a chama
que despertará e arderá
gerará e lançará cambiantes de si
deitando Brilho sobre a Terra
na edição de um Número Perfeito.
E as lágrimas que rolarem
resistindo pelos esplendores
o tan tan tan tan dos tambores
de toda África Herança.
Enviar novo comentário