Uma estréia à japonesa com atraso de 29 anos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de março de 1988
Com atraso de nada menos que 29 anos, os curitibanos podem conhecer um filme de Yasujiro Ozu (1903-1963), cineasta japonês que entre 1927/62 realizou 54 filmes marcados por personagens comuns, comédias doce-amargas - "um estilo sóbrio e jansenista, de uma simplicidade e orientalismo absoluto" como escreveu Rubens Ewald Filho em seu "Dicionário de Cineastas". (Em exibição no cine Groff).
O desconhecimento que temos do cinema japonês é total. Com exceção de alguns poucos apaixonados (como o "tv-man" Valêncio Xavier), que fazem das tripas coração para conseguir vídeos de filmes japoneses, do passado e do presente, a falta de regularidade na projeção de fitas japonesas - mesmo nas décadas de 50/60, quando várias distribuidoras nipônicas funcionavam em São Paulo, impede que tenhamos uma intimidade maior com este cinema. Portanto, a projeção de "Bom Dia" (Ohayo) produção de 1959, naturalmente com um elenco desconhecido para o público brasileiro, é significativa. Trata-se de uma comédia de costumes, com um tema atual para o Japão na época - e que até hoje mostra-se interessante mesmo para a realidade brasileira: para protestar pela falta de um aparelho de televisão em casa, dois garotos fazem greve de silêncio, semeando a desordem na família e na vizinhança até conseguirem o objetivo que lhes trará felicidade.
Partindo deste approach, Yasujiro Ozu fez um filme bem humorado "onde a câmera é sobretudo testemunha imóvel ao mesmo tempo sublinhando uma soberba direção de atores, fazendo um estado de costumes japoneses contemporâneos cujos fatores podem ser imediatamente apreciados pelo espectador ocidental, porque a greve dos garotos destaca não somente a posição entre o Japão tradicional e a vida à americana, mas também o presente conflito de gerações" - conforme registra a revista "Positi", há 20 anos passados.
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