A Cidade & O Tempo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de junho de 1974
Ao decidir deixar a mansão das Rosas, na Avenida João Gualberto, por um penthouse no Edifício Guanabara, o industrial Ildefonso Fontana, cuja família possui aquela histórica propriedade há mais de um século, apenas acrescentou mais um dado numa crescente tendência entre a classe rica de nossa cidade: a renúncia aos luxuosos palacetes que apesar do conforto e da história que oferecem, apresentam dificuldades de ordem operacional que tornam antieconômica a sua manutenção.
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Nos últimos 7 anos, nada menos que 20 casarões construídos no século passado ou entre os anos 10/40, foram sucessivamente abandonados por seus herdeiros, pois com a morte dos prósperos homens que a construíram numa época de fausto e tranquilidade na provinciana Curitiba, as novas gerações tem preferido residências mais modernas e seguras - em bairros sofisticados incorporados há poucos anos (Los Angeles, Jardim Social, Carmelo Rangel etc) ou nos luxuosos edifícios que começaram a aparecer a partir dos anos 60.
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Mas um dos motivos que mais tem incentivado as esposas a convencerem seus ricos maridos a transferirem-se de ricas mansões para novas habitações prende-se a um problema crescente em nossa sociedade de consumo: a falta de mão de obra para trabalhos domésticos. Aquilo que era farto e barato até há pouco - o serviço de domésticas, começa a escassear, pelas novas possibilidades que se abrem para as mulheres das classes mais humildes, hoje com algumas possibilidades de ascensão profissional e pessoal, através de colocações no comércio e principalmente, indústria. Com as perspectivas que a Cidade Industrial abre, a situação torna-se mais grave em termos de quem estava acostumado a manter imensas equipes para serviços domésticos e as poucas (e boas) empregadas que há anos servem, com lealdade e dedicação, as famílias chegam, muitas vezes, à serem tentadas de mudarem de endereço mediante salários inflacionantes, quando não, até o pagamento de luvas.
Tudo isto faz com que os casarões mais aristocráticos da cidade entrem em nova fase - que no passado já atingiu outras capitais, hoje metrópoles: escritórios, grandes firmas, ocupando os familiares espaços do passado. Quando não são demolidos para darem lugar a anônimos blocos de apartamentos.
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