Os urros de Leon sobre a garimpagem do bom som
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de dezembro de 1989
Quando idealizou reeditar muitas das preciosidades em 78 rpm que acumulou ao longo de mais de 40 de seus 59 anos de vida, o pernambucano Leon Barg já imaginava que sua iniciativa viria, para usar uma frase clichê, preencher um espaço em nossa memória cultural. Embora outros apaixonados pelos anos de outro da MPB já viessem reeditando elepês ou montando discons fonogramas de diferentes fases (Chic da Moto Discos, Filigranas, Collector's etc.), o projeto de Leon foi mais além: concentra-se especialmente na garimpagem de artistas que, apesar de seu valor, não passaram da fase dos 78 rpm - muitos dos quais, principalmente as cantoras, acabaram, precocemente, abandonando suas carreiras - optando pela vida doméstica após o casamento. Assim, dos 45 elepês que a Revivendo colocou no mercado em dois anos de atividades, estão mais de 15 cantores (as) que permaneciam praticamente inéditos mesmo para apaixonados da música popular. Naturalmente que ao lado das vozes anônimas contemporaneamente Barg tem reeditado gravações daqueles que fizeram bela carreira - e das duas maiores estrelas dos anos 30/50 - Orlando Silva (1915-1978) e Francisco Alves (1898-1952), montou uma seleção que inaugurará a série CD, encomendada a Microservice (única fábrica de discos laser na América do Sul).
O trabalho de Leon Barg, desenvolvido em Curitiba (onde reside desde 1952), já alcançou uma justa repercussão nacional - prova disto é a espontânea cobertura que vem recebendo. Na semana passada, ele teve mais uma satisfação: convidado pelo Museu da Comunicação Social, Hipólito José da Costa, de Porto Alegre, foi um dos conferencistas do Fórum dos Museus de Imagem e do Som e Instituições Assemelhadas que, durante três dias, reuniu dirigentes de 16 entidades que se preocupam com a memória brasileira. Em sua informalidade, Barg impressionou a todos, falando da importância do disco, dos cuidados para sua preservação e de seu trabalho para a restauração, como vem fazendo, num investimento pessoal e que longe de trazer lucros, por enquanto exigiu pesados sacrifícios pessoais.
A exemplo do Valêncio Xavier, diretor do MIS-PR, que há meses já abriu as portas do nosso Museu para colaborar com Leon, outras instituições também estarão agora, oficialmente, colaborando com Leon neste seu importantíssimo trabalho.
O Fórum dos dirigentes de Museus das Imagem e do Som alcançou objetivos práticos, inclusive para um maior intercâmbio. Para tanto, prevaleceu uma idéia levantada por Valêncio, no sentido de que fosse criada uma associação nacional - e para cuja presidência foi aclamado Antônio Henriques, diretor do Museu Hipólito José da Costa. O próximo encontro, em 1990, será em Olinda, cidade na qual existe um atuante museu da imagem e do som, preocupado na pesquisa e na preservação da memória nordestina.
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