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Berg & Schoenberg

O romântico Alban Berg, da Escola da Viena, finalmente foi lembrado no Brasil. Um ano após seu centenário de nascimento. Um inovador e precursor, Berg é praticamente desconhecido fora de círculos mais restritos. O centenário de nascimento e os 50 anos da morte de Alban Berg (Viena, 9/2/1885 - 25/12/1935), um romântico do atonalismo e um dos três mentores da famosa Escola de Viena - ao lado de Schoenberg e Anton Webern - passaram praticamente despercebidos no Brasil, no ano passado. Com exceção de alguns ensaios do respeitado crítico João Marcos Coelho e do maestro Júlio Medalha (especialmente no "Folhetim", 421, 10/2/1985), pouco se falou sobre a importância da obra de Berg, cuja ópera mais famosa - "Wozzeck" (sobre texto teatral de George Buchner), só teve sua primeira encenação no Municipal (São Paulo) em 1982, sob regência de Isaac Karabtchevski, 57 anos após sua primeira apresentação mundial em Berlim. Agora, entretanto, parece que começa a haver coragem em editar obras de autores da Escola de Viena - inovadores e precursores no início deste século e até hoje praticamente ignorados fora de círculos restritos. Na série Signature, da Deutsche Grammophon, a Polygram lançou a mais famosa das obras de Arnold Schoenberg (1874-1951) - "Pelleas und Melisande", poema sinfônico para orquestra, inspirado no drama de Maurice Maetentick - com a Filarmônica de Berlim sob regência de Herbert Von Karajan. Considerada sua mais longa e ambiciosa obra orquestral, "Peléias e Melisandra" foi completada em fevereiro de 1903, quando o compositor contava apenas com 28 anos. Obra definitiva e desafiadora, escrita para grande orquestra - e nada mais apropriado que a Filarmônica de Berlim para sua execução - ao longo de 45 minutos oferece "um argumento sinfônico e poético intensamente cumulativo", conforme observou o musicólogo Arnold Whittall. Embora ocasionalmente se possam sentir influências de Wagner, Strauss, Mahler e outros, a música de Schoenberg, mesmo no seu mais opulento pós-romantismo, já era distintamente individualista. "Pelleas und Melisande" é uma grande síntese a partir da qual um dos mais notáveis inovadores do século XX avançaria para um novo mundo, sem, no entanto, romper seus vínculos com o antigo. xxx Compensando, mesmo com atraso de um ano, a efeméride dos cem anos de nascimento (e 50 de morte) de Alban Berg, a Polygram editou em seu suplemento de março, numa perfeita produção da Rádio Bávara, gravado em Munique, em março de 1984, quatro peças do grande mestre austríaco: o concerto para violino "Em memória de um anjo", com Gidon Kremer no violino e as três peças para orquestra, opus 6 - ambas com o maestro inglês sir Colin Davis regendo a Sinfônica da Rádio Bávara. As três peças para orquestra, opus 6, de Berg, foram escritas durante a primavera e o verão de 1914. Foram as primeiras composições puramente orquestrais de Berg e, ao mesmo tempo, as primeiras de certa duração, após uma série de peças breves. Já o concerto "Em memória de um anjo" tem uma origem trágica: Berg, já com 50 anos, interrompeu a instrumental "Lulu" (uma de suas óperas mais famosas) quando recebeu a encomenda para um concerto para violino para o americano Louis Krasner. Um acontecimento trágico desencadeou o processo criativo: em 22/4/1935 a filha de Alma Mahler, Manon Gropius, morreu aos 18 anos com poliomielite. Muito apegado à jovem, Berg decidiu que o concerto para violino seria o seu réquiem, sem imaginar que também escrevia o próprio. Esta peça em dois movimentos, que reúne segmentos muito diferenciados e comporta todas as características de uma obra-prima da maturidade, foi concebida numa espécie de "tonalismo serial". Complementando o pacote de lançamentos de uma música pouco conhecida no Brasil, a mesma Polygram nos traz um lp dedicado a Gyorgy Ligeti - mestre húngaro nascido em 1923 e praticamente inédito no Brasil. O Quarteto de Cordas nº 2 (1968), entregue à competência do Quarteto La Salle, é uma obra contemporânea onde se sente a presença de reminiscências ilustres (o Beethoven dos últimos quartetos, o Bartok dois quartetos 4 e 5, a Suíte Lírica, de Alban Berg, os quartetos de Schoenberg, Webern e Debussy, como observou o crítico Luiz Paulo Horta, do "Jornal do Brasil"). Mas esta "reminiscência" está apenas na forma de "aura", como ensina Luiz Paulo: estamos muito longe do pastiche à la Stravinsky, acrescentando: "Mas não há modelos para o 'Lux Aeterna' (1966) que aqui aparece com o Coro da Rádio do Norte da Alemanha: os 16 solos para voz entram sem sincronia, suavemente, em estilo canônico, criando um tecido sutilíssimo de coloridos sonoros". LEGENDA FOTO - Retrato de Alban Berg, por Arnold Schoenberg (1910)
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
3
25/05/1986

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