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Aramis

A cor do dinheiro e do sucesso

Brasília São cinco milhões em disputa. A maior premiação já dada num festival de cinema brasileiro. O produtor do melhor filme levará um milhão, o melhor diretor Cz$ 500 mil e assim por diante, com premiações significativas também para os curtas em 16mm. Além do troféu "Candango", que pelos 20 anos de resistência do festival de Brasília é significativo. Portanto é natural que o ambiente neste último dia de festival, 21, esteja tenso. Embora os cineastas se confraternizem amavelmente nos corredores do Hotel Nacional e nas salas de exibição, não deixa de existir uma natural tensão no ar. A premiação de um filme é, por si só, um aval importante para a carreira de seu realizador - e ponto de marketing para sua comercialização. Acrescenta-se, então, os gordos cheques que a Fundação Cultural do Distrito Federal estará entregando no final desta noite de quarta-feira aos escolhidos pelos júris para se imaginar que mais do que a alegria de um troféu, a premiação em dinheiro é sempre bem-vinda. Marco Antônio Guimarães, coordenador-geral do XX Festival do Cinema Brasileiro de Brasília - e a cuja competência se deve a sobrevivência e valorização deste evento (nos anos em que esteve afastado de sua organização, a promoção praticamente naufragou) explica que não houve intenção de inflacionar as premiações, ao ser anunciado Cz$ 5 milhões, para as diferentes categorias. "Acontece que na ocasião tínhamos um orçamento previsto de Cz$ 20 milhões. Houve corte de 50 por cento e, apesar das dificuldades que isto trouxe, decidimos honrar a promessa e manter a premiação", explica. Para tanto, o festival cancelou duas promoções paralelas - as reuniões dos pesquisadores do cinema brasileiro e da associação de documentaristas. Estes dois encontros representariam um custo adicional de quase Cz$ 3 milhões, que a Fundação Cultural não poderia suportar. Em três reuniões informais do diretório de organizadores de festivais brasileiros de cinema, nos quais se debate a criação de normas básicas para disciplinar e coordenar os eventos cinematográficos, competitivos ou não, que se realizam aqui em Brasília, discutiu-se bastante a questão da premiação em dinheiro nos festivais. Eloir Zorzanello, vice-prefeito e coordenador-geral do festival do cinema brasileiro de Gramado, Rio Grande do Sul, reiterou a disposição daquele festival em não oferecer mais prêmios em dinheiro - apenas o troféu Kikito. - "Este ano eliminamos os prêmios em dinheiro e não tivemos a menor dificuldade. Os realizadores entendem a importância do festival como vitrine para a promoção do cinema brasileiro e compreenderam que o corte dos prêmios financeiros possibilita que o festival ofereça compensações promocionais que significam maior retorno". O cineasta Pedro Jorge de Castor, realizador do filme "Tigipió" (em exibição no cine Groff, a partir de amanhã, quinta-feira) e diretor geral do Festival do Cinema Brasileiro de Fortaleza, concorda: - "Também não oferecemos premiações em dinheiro, inclusive porque nosso festival não é competitivo. E a eliminação da competição fez com que o festival tivesse participação de realizadores que normalmente não iriam em festivais de disputa". Também o FestRio, a exemplo dos festivais internacionais de primeira categoria, não oferece prêmios em dinheiro - mas apenas os troféus Tucano de ouro e de prata, "já reconhecidos internacionalmente como um importante prêmio" explica Cosme Alves, um dos diretores do FestRio articulador do diretório ora em organização. De uma maneira geral, os prêmios financeiros deverão desaparecer dos festivais e mostras (no que seria o pagamento de aluguéis dos filmes em exibição), já que a intenção dos promotores destes eventos é fazer com que os mesmos adquiram cada vez mais uma projeção que, diretamente, beneficia em espaços, congraçamento e divulgação do cinema brasileiro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
21/10/1987

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