No campo de batalha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de dezembro de 1986
Um novo veículo anarquista circulando nos meios cineclubistas radicais do Estado. Chama-se "Caos" e tem como logotipo a sátira ao slogan da MGM: "Ars Gratia Artis-Cine Clube".
O editorial é flamejante: "Este é um país de idiotas. Um país que se preza jamais permitiria metade dos cambalachos e sacanagens que existem por aí: Rede Globo, Folha de São Paulo, Suplici Matarazzo, Romeu Tuma, Prostituinte, eleições, política, igrejas, propriedade privada etc. Dentro desse caos institucionalizado resolvemos publicar um jornal de cineclubistas anarquistas para pôr mais lenha na fogueira. Vamos debater as grandes questões nacionais/internacionais e o atraso da menstruação da minha prima. Também vamos discutir cineclubismo, uma das poucas coisas interessantes que nos restam. Mas isso também será por pouco tempo porque daqui a alguns meses vai estar cheio de babacas fazendo cineclubismo. Então as pessoas boas, como nós, terão que deixar o movimento e partir para outras coisas, talvez fazer guerrilha na Nicarágua ou Líbano, só pra tocar horror contra os norte-americanos. Este não é um jornal democrático porque a democracia é a política dos fracos, o reino da mediocridade. Em guarda seus porcos."
"Caos" não tem expediente indicando os responsáveis pela publicação - em formato 31 x 28 centímetros, 8 páginas. Em compensação traz uma história em quadrinhos udegrudi e uma foto do ex-secretário da Cultura do Paraná (sic, sic), cercado por três frases: "Morte aos agentes da Embrafilme infiltrados no cineclubismo/Embrafilmes é um cabide de empregos/Embrafilmes sacana". Há também dois poemas: um da dupla Roberto Prado e Thadeu e outro ("Israel na Palestina") de José Gil Almeida.
No coquetel de encerramento do FestRio, há uma semana, na beira da piscina do Hotel Nacional, uma das presenças que mais chamou a atenção era de um curitibano: o punk Gallo (Luís augusto Vulcanis, 24 anos), dirigente do Cineclube Sindicato do Delírio, poeta, músico e autor da explosiva "Calote do Judeu", cuja letra divulgada no jornal "Opção Cultural", há 5 meses, fez com que o editor da publicação, Antônio Gil Almeida, recebesse ameaças de morte. Um dos líderes da comunidade israelita que chegou a ameaçar Antônio Gil, no gabinete da deputada Amélia Almeida (da qual ele é sobrinho e assessor) foi o então candidato Max Rosenmann.
Gallo e Antônio Gil Almeida foram ao Rio, participar de uma reunião de cineclubistas realizada paralela ao FestRio. Gil foi eleito em agosto último, na Bahia, presidente do Conselho Nacional de Cineclubes.
Poeta da cidade movimentando-se bastante, sexta-feira, João Alceu dos Santos reuniu no Colégio Spei, poetas tradicionais, concretistas, marginais, grafiteiros e outros para uma "Oficina de Criação de Poesias". Atenção Adelia" Pode ser pauta para teus espaços.
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A sensual Ceres Fonseca, ex-taberneira e agora marchand-de-tablaux (além de também artista plástica nas horas vagas) lançando mais uma pintora: a catarinense Maria Ioeche, que é apresentadora também como escritora catarinense e que nas palavras de Ceres "iniciou seus trabalhos com captação extra-sensorial, através de Matisse e depois através de Martinez, sendo em termos desta dimensão autodidata" (sic). Quem quiser conferir é só chegar na Esculturart, rua Jaime Reis, 136. A mostra chama-se "Captações Energéticas" e, a exemplo de Vitorina Sabogni - a pintora ufologista dos contatos imediatos do terceiro grau - também Mari dá títulos espiritualistas aos seus trabalhos: "Sucesso Canalizado", "Encontro Energético", "Energias Luminosas", "Céu de Verão" etc.
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Outra artista catarinense, Marly Willer (nascida Renaux), expõe sua arte em cerâmica na nova galeria Rezende & Mourão (Shopping Hauer).
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Já o astuto Fernando Velloso preferiu reservar sua Contemporânea Galeria de Arte, neste mês para a mostra "Grandes Artistas/Pequenos Formatos". Mini-quadros de mais de 30 artistas, a preços convidativos - presentes ideais para o Natal.
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Ainda hoje, no SESC da Esquina, um espetáculo de dança gabaritada pela voltagem e inventividade de Rita Pavão, uma espécie de Leila Diniz tupiniquim dos anos 80. A irreverência começa no título: "Pernas pra que te quero" e ela explica: "O coração pode querer, a cabeça pode saber, mas são as pernas que andam na corda bamba".
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Mulher intensa em sua beleza e sensualidade, de caminhadas internacionais, Rita transfere para a ponta dos pés de suas alunas uma visão sensível do mundo que busca entender em todo seu significado.
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Temporada de engorda começou: Dezenas de almoços e jantares de confraternização, desafiando sistemas digestivos. Terça-feira, dia 9, quem recebe para almoço é a DaGranja S/A Alimentos, que tem sua unidade industrial na Lapa mas preferiu fazer a festa no Buffet Ilha do Mehl, onde a competência de Jacob Mehl garante a boa digestão.
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Uma boa dica para quem busca arte como presente de Natal a preços razoáveis: três artesões estão expondo na galeria Funarte: Antônio dos Santos, que faz pássaros; Francisco amaro que cria belos brinquedos e Paulo Schmitt que esculpe santos.
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Este ano, a Funarte, graças a assessoria de Julieta Fialho dos Reis, uma pesquisadora de artesanato das mais sérias, promoveu mostras de talentos como Laurentino, Lafaiete, Tião Brasil, rendeiras de Santa Catarina e ceramistas do Norte paranaense.
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