Rita, do canto às cores
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de abril de 1979
Há muitas maneiras de se enfrentar as pancadas que a vida nos dá, a cada momento, quando menos se espera. Pancadas que, já dizia Ernest Hemmingway, ensinam nos tornar mais fortes, mais resistentes - por mais que nos atinjam. E quando as pessoas são sensíveis buscam compensar a dor, a tristeza, a angústia, com manifestações artísticas. Rita Eliana (Santos Neves), catarinense de Canoinhas, 43 anos, há mais de 25 morando no Paraná, tem procurado resistir às dificuldades tentando sempre uma realização artística. Soprano de bela voz, estudou em Viena, por 2 anos, foi estrela de dois dos primeiros musicais apresentados nos tempos pioneiros da TV-Paranaense - "Melodias Famosas" e "A Volta ao Mundo em Canções". Depois, estrelou um mediametragem, que seu marido, o fotógrafo e cinegrafista João Schreiber, 55 anos, rodou em Vila Velha, e no qual ela interpretava canções de Bento Mossurunga e do compositor Paulinho Martins, de Ponta Grossa, também já falecido. O filme nunca chegou a ser concluído, tal como Rita e João idealizaram e seus negativos acabaram sendo doados ao Museu da Imagem e do Som da SEC, onde ao lado de milhares de outros metros de documentários e cine-jornais, que contam muita da história do Paraná nos últimos 30 anos, estão a espera de restauração - projeto que só agora será concretizado, graças a proposta que o novo diretor do MIS, engenheiro Marcello Marquioro, apresentou ao secretário Luís Roberto Soares, da Cultura e Esportes.
Nos últimos 10 anos, Rita e João estiveram afastados das lides artísticas: montaram uma loja de aparelhos fotográficos, tiveram experiências (frustrantes em termos financeiros) na área, estivera, gravemente enfermos. Ma, se não podia mais cantar, como nos anos 50 e 60, Rita se volta às telas e, a partir de 1975, começou a pintar paisagens fortes, externando suas angústias existeciais, "numa linguagem Pictórica que nos parece próxima de encontrar seu rumo", como disse o pintor Fernando Velloso, diretor do Museu de Arte Contemporânea, ao apresentar a segunda individual de Rita Eliana ("Cultos às horas de solidão"), realizada no hall do Hotel Caravelle.
Mãe de 5 filhos, um neto, procurando realizar uma pintura espontânea - sem pretensões de entrar em salõs ou merecer prêmios, Rita Eliana faz questão de dar títulos muito pessoais a cada uma das telas. Autodidata que procura suprir as suas deficiências técnicas "com a força criadora que brota violenta e impetuosa de seu interior", como também disse Velloso, Rita Eliana tem produzido muito. Tanto é que vai mostrar mais 60 novas telas, com muitas cores e formas, a partir do próximo sábado, no salão principal do Santa Mônica Clube de Campo - que, a exemplo do Clube Curitibano, também quer dar espaço a que novos artistas, sem condições de serem ainda aceitos em galeria e salões profissionais , possam expor seus trabalhos. Rita, em sua simplicidade, diz: "Não quero elogios, nem prêmios: quero apenas mostrar meus quadros, onde coloco, em cores, os meus sentimentos".
Neste fim de semana - repleto de atrações - a "Revista do Henfil" no Teatro do Sesi (hoje, 19 e 21 horas), "Feitiço", com Ney Matogrosso e o grupo Terceiro Mundo no grande auditório do Guaíra e mais "O Carteiro da Noite" de Eddy Antônio Franciosi, no pequeno auditório do TG, existe ainda uma opção musical tupiniquim: o espetáculo "Momentos da MPB" (Teatro do Paiol, 21 horas), prova-de-fogo do grupo Nymphas, formado por sete meninas, média de idade de 18 anos, que vêm cantando juntas desde 1975, mas que só agora se lançam num trabalho mais pretensioso. No ano passado, modestamente, estiveram em 7 espetáculos, e num deles, ouvidas pelo jornalista Luís Augusto Xavier, crítico musical (e compositor/violonista bissexto) de bom gosto, agradaram muito. Carmem e Cristina Soto de Bakker, Gilceley Teixeira, Maria Ines de França, Miriam Taísa Lopes Lau, Rosa Lídia Ploner e Marisa Yvette Fontoura, não só interpretam composições dos melhores autores, como também mostram músicas inéditas, principalmente sensíveis composições de Mara, vocalista e violinista, uma promessa que merece atenção. E a formação de um grupo vocal feminino não é fácil. O Quarteto em Cy, 15 anos de estrada, diversas substituições e só hoje encontrando um equilíbrio, que o diga! Assim, as Nymphas merecem estímulo. E que se aposte nelas.
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