Login do usuário

Aramis

Presença saborosa de vozes afinadas

Melhor do que nenhum outro record-man, o eclético Maurício Quadrio sabe a arte de remexer arquivos e reciclar produções. Faz isto há quase três décadas e graças à sua sensibilidade, bom gosto e, sobretudo, senso de mercado, excelentes reedições são sempre providenciadas - para alegria dos mais jovens, que não tivessem acesso aos lançamentos originais ou, então, aos que desejavam substituir gravações tão ouvidas que se encontram gastas. Agora, numa segunda fornada, temos mais um pacote da série "Presença de...", uma coleção econômica, com dois elepês em capa simples, que se não tem maiores detalhes de acabamento (informações de quando foram feitas as gravações, registros dos intérpretes etc.), vale pela diversificação - o que faz com que estes produtos se destinem a diferentes públicos . Eis aqui o registro deste último pacote. Frankie Laine (Frank Lo Vecchio, Chicago, Illinois, 1913). Em 1930, já era vocalista da Joe's Band e mais tarde trabalhou com o Fred Croyole's Band (1937). Há 43 anos chegava em Los Angeles, cantando em night-clubes, fez uma excursão à Inglaterra, de sucesso (1954), e no início da era da televisão chegou a ter seu próprio show na CBS (1956). Seria, entretanto, pelas baladas country - especialmente as que entraram em trilhas sonoras - como "High Moon" (de "Matar ou Morrer", 1951); "Gunefight at the O.K. Corral" (de "Sem Lei e sem Alma", 1957) e canções redondas, apropriadas ao seu estilo vocal ("Jezebel", "Jalousie", "Autunm Leaves", "Monalisa", "I Believe", etc.) que se tornaria um dos nomes populares nos anos 50. Nestes dois álbuns, estão 24 de seus maiores êxitos - incluindo a sempre antológica "Laura" (Mercer/Larue/Raskin). Andy Williams (Walt Lake, Iowa, 1932). Foi com os irmãos Bob, Dick e Don, que começou sua carreira, cantando numa rádio de Des Moimes, em Iowa e, mais tarde em Chicago e Cincinnati. Depois, com Kay Thompson, fez apresentações em clubes da Califórnia até que Steven Allen o projetou em seu show de TV "Tonight". Um dia substituiu Pat Boone no programa "Chevy Showsroom" e ganharia um programa na NBC. Simpático, afinado, seria mestre-de-cerimônias das festas de entrega dos Grammy a partir de 1972 e emplacou sucessos românticos e açucarados, na linha de "Days of Wine and Rose", "Red Roses for a Blue Lady", e versões de "As Time Goes by", "What Now my Love", "A Time for Us", sucessos dos Beatles ("Michelle", "Yesterday") que estão nesta reedição. Curiosamente, sua versão de "No Balanço do Jequibau" (Ciro Pereira/ Mário Albanesse) que se chamou nos EUA "Pretty Butterfly" também está no álbum. Tony Bennett (Anthony Deominick Benedetto, Queens, Nova Iorque, 1926) dispensa maiores lembranças biográficas. É um dos melhores cantores de todos os tempos, reconhecido pelo próprio Sinatra como seu sucessor. Firme no vigor de seus 63 anos, pode ser aqui apreciado em 12 momentos antológicos de sua carreira, com um repertório basicamente romântico - "Love Story", "Country Girl", "The Gentle Rain", "People", "Fly me to the Moon", "A Time for Love" e sua versão de "Insensatez" (How Insensitive). Por certo, um dos volumes da série "Presença de ..." com melhores chances comerciais. Tito Madi (Chauki Maddi, Pirajuri, SP, 08/07/1929) deveria estar gravando novos discos pois continua excelente. Neste ano em que comemorará seus bem vividos 60 anos, merece todas as homenagens pelo muito de bonito que já fez para a MPB - como intérprete e, sobretudo, um de nossos melhores compositores românticos. A prova está nas 24 faixas selecionadas por Quadrio para esta sua "Presença", com 13 composições próprias (incluindo clássicos como "Chove lá Fora", "Saudade Querida", "Amor e Paz"), ao lado de outras canções belíssimas como "Nós e o Mar" (Bôscoli/ Menescal), "Chorou Chorou" (Luiz Antônio), "Corcovado" (Tom), etc., que fazem com que esta reedição seja plenamente recomendável. Uma prova de talento maior de um dos nossos maiores valores. Silvio Caldas (Rio de Janeiro, 23/05/1908) é outro exemplo de competência maior, clássico seresteiro e intérprete que tem tudo para merecer referências sempre. De sua imensa discografia somente na CBS, Quadrio teve, por certo, dificuldades de selecionar 24 limelights mas, mesmo ficando no óbvio, proporciona que aqueles que ainda não possuem uma discografia do "Titio" possam levar o melhor daquilo que vem gravando há meio século: "Chão de Estrelas" - sua marca-registrada; "Feitiço da Vila", "Noite Cheia de Estrelas", "Pierrot", "Minha Palhoça", "A voz do Violão", "Viva, meu Samba", "Ontem ao Luar", "Feitio de Oração", "Ave Maria", "Cabelos Brancos" e outros clássicos - que, por si, justificam toda uma página para se falar, em detalhes da importância de Silvio Caldas na canção brasileira. Cauby Peixoto (Niterói, 10/02/1935) é outro cantor que tem seu lugar assegurado na MPB. De uma família de artistas, primeiro superstar dos tempos da Rádio Nacional a provocar polêmica (e "escândalos" nos anos 50), Cauby sempre teve seu estilo característico de interpretar tanto canções brasileiras - a partir de seu cartão-de-identificação, "Conceição" (Jair Amorim/Dunga) até versões como "Blue Gardenia" (grande sucesso em inglês na voz de Nat King Cole), "Daqui para a Eternidade" (tema de "From Here to Eternity") e "A Pérola e o Rubi" (The Ruby and the Pearl), algumas das jóias reunidas neste álbum nas quais não poderiam faltar "Molambo", "Prece de Amor", "Tarde Fria", "Foi a Noite", "Quero Você" e tantos outros êxitos dos anos 50 que Cauby colocou nas paradas. Carlos Alberto é a prova de que de que Maurício Quadrio tem o senso de marketing: ao lado das excelentes vozes neste pacote de reedição, não poderia faltar um veterano brega. Carlos Alberto, com seu vozeirão, cantando boleros versionados como "Toda uma Vida", "De Joelhos", "Ansiedade", "Ilumina-me Senhor", "Sabes que te Quero", etc., tem também seu público... E no equilíbrio da qualidade-vendas, concessões como estas são compreensíveis - desde que a "Presença de..." continue. Aliás, já continuou, com um esplêndido álbum instrumental de Baden Powell, dividido com Dick Farney, outro de Frank Sinatra mais um terceiro do trio Los Panchos - que ficam para posteriores registros.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
18
22/01/1989

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br