Marx quer a República do Pampa Gaúcho, Tchê!
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de novembro de 1990
Luiz Groff, 54 anos, um bem sucedido engenheiro civil que se tornou executivo em vários setores, ex-presidente da Cidade Industrial, idealizador e coordenador do "Programa Nosso" (de apoio às microempresas), hoje também diretor de marketing do grupo Olsen é, antes de tudo, um homem bem humorado. Dramaturgo, autor de várias comédias - uma delas, "A Reputação dos Quatro Bicos", foi a que inaugurou o Teatro da Classe - filho do pioneiro de nosso cinema João Baptista Groff (1897-1970), poderia ser um grande entertainer. Assim como conhece a arte de beber bons vinhos (aliás seu "Ino Veritás", terá agora uma segunda edição), sabe, como ninguém, contar uma piada, e/ou criar um "clima cênico" para uma história divertida. Pois agora, Groff está se arriscando a perder um de seus temas favoritos: a sua versão de como seria "A República do Piratini", para a qual idealizou até uma moeda - o "Tchê", e cujo brasão seria uma cuia de chimarrão cortada pelo cifrão.
É que um gaúcho de pura cepa, natural de Santa Cruz do Sul, Irton Marx, acaba de publicar um livro no qual trata daquilo que Groff sempre ironizou, com aparente seriedade: "Vai Nascer Um Novo País... República do Pampa Gaúcho" (224 páginas, sem indicação de editora, à venda em algumas cidades do Rio Grande do Sul).
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Marx - não o Karl, mas o gaúcho Irton - defende com vigor a separação do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina do resto do Brasil. Mais do que levantar um tema polêmico, propõe um plano de governo, divisão do território em Províncias, com capitais já definidas e até - pasmem: a data para a independência (1o. de outubro de 1995).
Segundo Irton Marx, o novo país se chamará Pampa Gaúcho e estará dividido em 11 Províncias - oito no Rio Grande do Sul e três em Santa Catarina. O Paraná, apesar da presença gauchesca e das idéias divisionistas do Oeste, ficou de fora do projeto do Marx gaúcho.
O território do Pampa Gaúcho será de 384.000 km2, com uma população aproximada de 14 milhões de habitantes e uma economia equilibrada. Da dívida externa "nos tocará menos de US$ 25 milhões - o que não será difícil de pagar" diz Marx, que trabalha há muitos anos para a estruturação deste livro. Uma de suas preocupações foi elaborar um projeto em que a tradição e o presente convivam com harmonia. As províncias são denominadas com títulos de fácil identificação no vocabulário regional histórico. Como Distrito Federal fica a cidade de Porto Alegre. As cores da bandeira são vermelha, amarela, preta e azul. Veja as províncias e suas capitais propostas.
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Irton Marx está procurando apoio político ao seu projeto e, ao que consta, já tem a adesão de muitos, embora afirme que não pertença ao Partido da Revolução Farroupilha, que há muito defende o separatismo e tem, inclusive, parlamentares que se integram às suas teses. Irton Marx acredita que depois da Proclamação da Independência do Pampa Gaúcho, muitos dos três milhões de gaúchos que vivem fora dos Estado retornarão. Estabeleceu a data - dentro de cinco anos - porque "um projeto precisa ser fixado em datas". O centenário da Revolução Federalista, que acontecerá em 1993, é apenas uma coincidência, podendo fazer com que o tema seja ainda mais discutido. Irton Marx define seu livro como um projeto sócio-político-cultural "que define o futuro deste povo em um país independente, com uma condição de vida bem melhor que a atual". E jura que sua execução é possível e que nada é baseado em fatos que não sejam reais.
LEGENDA QUADRO - O Pampa Gaúcho e suas províncias
Província Capital
Charrua Alegrete
Gaudéria São Gabriel
Piratini Pelotas
Açoriana Caxias do Sul
Lívia Santa Cruz do Sul
Rio Grandense Santa Maria
Catarinense Chapecó
Nova Teutônia Blumenau
Juliana Florianópolis
Sepévia Passo Fundo
Missões Santo Ângelo
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