Artigos por data (1985 - Novembro)
"Querelle", quando Genet é revisto por Fassbinder
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de novembro de 1985
["Querelle"], no último filme de Rainer Werner Fasbinder, foi concluído em 1982, pouco antes de sua morte. Sua adaptação do livro de Jean Genet provoca o choque entre duas mitologias, mas também foi a homenagem do cineasta alemão a um dos autores mais controvertidos de nossa época. Assim Fassbinder explicou sua obra, numa entrevista pouco antes de morrer vítima de tóxicos:
Indiana, Piaf, Jânio e Lady Hawk, as reprises
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de novembro de 1985
"Indiana Jones e o Templo da Perdição", de Steven Spielberg, o maior sucesso de bilheteria do ano passado, retorna ao Condor, para alegria dos fãs de filmes de aventura. Uma espécie de antecipação da próxima temporada natalina, com superespetáculo como "De Volta ao Futuro", com estréia nacional a 25 de dezembro, mas que já no próximo dia 4 de dezembro terá pré-estréia patrocinada pela Provopar, em benefício de obras sociais.
Tess, o mais belo filme de Polanski
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de novembro de 1985
Se há poucas estréias, em compensação há reprises significativas. De princípio temos o retorno do belo "Tess", superprodução que Roman Polanski realizou no final dos anos 70, na Europa, logo após ter fugido dos Estados Unidos (onde continua impedido de entrar, já que foi condenado por sedução de menor). Premiado com três Oscars em 1980 - fotografia em cores, Geoffrey Unsworth/ Ghislai (Cloquet), guarda-roupa (Anthony Powell) e direção de arte (Pierre Guffroy/ Jack Stevens), "Tess" é, realmente, um dos mais belos filmes dos últimos anos.
Koyaanisqatsi, uma obra prima visual
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de novembro de 1985
O título é complicadíssimo, quase impronunciável: KOYAANISQATSI. Tão difícil que a Gaumont, ao comprar os direitos de sua distribuição no Brasil, decidiu usar um subtítulo: A VIDA EM DESEQUILÍBRIO. Mas se o título é complicado, o filme não o é. Ao contrário: são duas horas de delirante beleza visual, nenhum diálogo, apenas uma trilha sonora magnífica de Philip Glass e as Imagens mais delirantes já vistas num filme.
Exibido na 8ª Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo, no ano passado, foi o filme predileto pelo público. Depois teve algumas sessões paralelas ao I FestRio.
Um filme de imagens
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de novembro de 1985
GODFREY REGGIO nasceu em NEW ORLEANS. Pertenceu, durante 14 anos, à Ordem de Ensino da Irmandade Cristã, onde começou como professor primário e longo passou a trabalhar com grupos de rua, em SANTA FÉ, NOVO MÉXICO.
Sempre se interessou pelo impacto da "mídia" para implantar idéias e, em 1974, REGGIO concebeu KOYAANISQATSI, uma idéia sobre um filme não verbal, que integra imagens, música e idéias.
Com o apoio da IRE, INSTITUTE FOR REGIONAL EDUCATION, uma instituição sem fins lucrativos sediada em SANTA FÉ, começou a produzir a obra.
Deus, como é belo o planeta!
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de novembro de 1985
Num filme sem diálogo, atores ou narração, o poder da imagem torna-se ainda mais importante do que em um filme dramático.
A forma de koyaanisqatsi rompe com muitas das convenções pré-estabelecidas da cinematografia, e o processo técnico de produção de imagens, que finalmente apareceu nas telas, também é totalmente inovador.
Muitos profissionais contribuíram para tornar Koyaanisqatsi uma festa para os olhos, sendo que um dos mais importantes foi Ron Fricke, responsável pela maior parte da cineraria. Para conseguir uma forma variada de efeitos, Fricke inventou seu próprio equipamento.
Geléia Geral
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de novembro de 1985
Serge Clemens não é o primeiro caso de brasileiro que assumiu, artisticamente, uma identidade internacional. Há 10 anos aconteceu o mesmo com Morris "Feellings" Albert, hoje residindo em Los Angeles. Afinal, de brasileiro, Serge Clemens tem apenas a nacionalidade e o conhecimento da língua portuguesa. Conviveu - e convive - com os meios artísticos da Alemanha, da Inglaterra, da França, Itália e Estados Unidos. Aos 10 anos sua família mudou-se para a Alemanha onde fez o ginásio. Em 1974 radicou-se na Itália onde completou o segundo grau.
TONICO E TINOCO As glórias da dupla caipira e as músicas do homem rural
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de novembro de 1985
Renato Teixeira e Passoca, dois paulistas de muito talento e bom gosto, vieram revitalizar a música rural brasileira, provando que no canto rural há muita beleza. Seus discos, com temas calcados no cancioneiro sertanejo, atingiram um público universitário que, ao menos em parte, aprende a ver também a beleza de nosso country.
O rock dos veteranos Rita e Erasmo Carlos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de novembro de 1985
Frente ao esquema repetitivo e frágil dos "novos" compositores e intérpretes jovens, superproduzidos neste mercado tão descartável, ainda se tem que admirar ao menos a competência profissional dos que vieram dos anos 60 e mesmo passando já há muito dos 30 anos (e diziam que não se deve confiar em ninguém com mais de 30 anos ...) mostram ao menos alguma ironia em suas musicas.
Murray, um novo mestre do piano em dose dupla
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de novembro de 1985
Entre as preocupações de Maurício Quadrio como coordenador das edições clássicos e jazz da CBS está a de promover lançamentos de novos artistas, revelados nestes últimos anos e em escala ascendente nos grandes centros. Faz isto agora com o jovem pianista israelense Murray Perahia, sucesso nos palcos de concertos europeus e americanos nesta primeira metade da década de 80.
Arrigo ressuscita Welles no FestRio
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de novembro de 1985
RIO - Orson Welles, falecido há 45 dias, aos 70 anos de idade, não poderia merecer homenagem maior no II FestRio do que a exibição Hours Concours de "Nem tudo é verdade", o surpreendente, belo e emocionante filme de Rogério Sganzerla. Concluído há poucas semanas, esse filme-homenagem está entre as mais significativas realizações do cinema brasileiro. Previsto, inicialmente, para lançamento no obscuro e mal promovido Festival de Fortaleza, o filme acabou não ficando pronto a tempo daquela mostra.
Nostalgia circense num belo filme dinamarquês
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de novembro de 1985
RIO - Coincidência ou não, o tempo é a temática do primeiro filme da mostra competitiva no II FestRio, "Que hora são, senhor despertador", do húngaro Peter Bacsoh. Entre perseguições nazistas a um relojoeiro abandonado pela mulher e vítima da intolerância de um oficial da SS, fala-se muito sobre o passar do tempo.
Ah! O nosso abandonado e pobre Teatro Guaíra
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de novembro de 1985
Quando esteve em Curitiba, há algumas semanas, para a temporada de "Ah! Mérica", no Auditório Salvador de Ferrante, o ator Raul Cortez se surpreendeu com o estado que se encontra aquela sala de espetáculos.
Se o público não chega a perceber, quem ali se apresenta fica chocado com a falta de cuidado da administração em termos de bastidores. Raul chegou a se queixar da própria falta de segurança do palco, com o piso apresentando falhas e colocando em riscos, inclusive, a parte física dos artistas.
Trocadilho, a nova bossa de Erasmo e Gonzaguinha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de novembro de 1985
Os músicos sempre tiveram um código muito especial de comunicação. Gírias próprias, com termos específicos, intraduzíveis para quem não pertença ao meio. Também o trocadilho é uma arte cultivada por instrumentistas, cantores e compositores. Maurício Einhorn, 52 anos, sem favor o melhor executante de harmônica-de-boca do Brasil - e que no Free Jazz Festival foi o grande destaque, ao fazer longos solos ao lado de Toots Thielemans (o astro internacional da harmônica) e Joe Pass, é tido e havido como o "rei do trocadilho" - fazendo páreo para alguns famosos trocadilhistas paranaenses.
De gente & fatos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de novembro de 1985
Simão de Montalverne (Simão Moschkovitch, 56 anos) marcou época, na imprensa carioca, como cronista da noite. Radicado há muitos anos em Curitiba, orgulha-se, com razão, de ser lembrado agora como "o pai do Zé Renato, 28 anos, violonista, compositor e, sobretudo, excelente cantor, ex-Cantares, ex-Boca Livre, está agora com um novo lp, ao lado de Cláudio Nucci - outro talento maior, que também integrou o Boca Livre na primeira fase. Antecipando o álbum, saiu um compacto simples, com "Pelo Sim, Pelo Não" e "Manágua".
Os momentos de Tancredo e os vídeos no II FestRio
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de novembro de 1985
RIO - Pelo menos duas vezes, ao longo de "Céu Aberto", um dos três filmes brasileiros que concorrem ao Tucano de Ouro, no II FestRio, é mencionado o Paraná como um dos três Estados (os outros seriam São Paulo e Minas Gerais) nos quais se ofereceria apoio a resistência, com a candidatura de Tancredo Neves, caso o golpe militar contra sua eleição tivesse sido deflagrado.
Frida, uma grande personagem mexicana
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de novembro de 1985
RIO DE JANEIRO - Os melhores filmes do FestRio vêm sendo apresentados na parte competitiva. Assim foi com o estimulante "Nem tudo é verdade", de Rogério Sganzerla, sobre a passagem de Orson [Welles] pelo Brasil (em 1942), o profundamento político atual "A história oficial", produção argentina e também exibido hors concours, "Frida - natureza viva" do mexicano Paul Deluc.
Hoje, a premiação dos melhores do II FestRio
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de novembro de 1985
RIO DE JANEIRO - Muitos espectadores menos atentos nem chegaram a reconhecer naquele senhor envelhecido, cabeleira branca - "uma versão mais gorda o escritor Ignácio de Loyola" como disse, o poeta e cronista Affonso Romano Sant'Anna - o ator Gian Maria Volonte. Sentindo-se meio doente ao chegar ao Rio, o astro de "O Caso Matte" e tantos outros políticos filmes italianos, era um dos poucos membros do júri oficial que preferia assistir aos filmes em competição na platéia central.
Poucos viram os curta-metragens
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de novembro de 1985
Praticamente poucos espectadores assistiram aos curta-metragens em competição. Nas sessões da manhã eram exibidos exatamente às 8 horas, quando poucos dos madrugadores espectadores na Sala Glauber Rocha do Hotel Nacional haviam chegado. A noite, eram também projetado antes do início do filme na sessão das 18 horas - também com os espectadores ainda chegando e procurando lugares. Assim, não se deu aos curtas o tratamento que mereceriam.
Os teclados de Makoto e o "bituqueano"Pat
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 30 de novembro de 1985
Três excelentes lançamentos de jazz neste final de ano. Dois dos quais se constituem em agradáveis surpresas: o pianista Makoto Ozone e a Widespread Jazz Orchestra, na Colector Jazz series. Já "First Circle" com o guitarrista Pat Matheny, mostra porque o guitarrista fez questão de participar do novo lp de Milton Nscimento: neste seu disco, gravado no ano passado (15 a 19 de fevereiro, em Power Station, Nova Iorque) já era clara a influência da música de Bituca em sua obra.